Com pés descalços e camisa polo, Mark Closkey pegou seu fuzil AR-15 e foi até a varanda de sua mansão em St. Louis. De lá, apontou para manifestantes que protestavam na rua onde mora, ao lado da mulher, Patricia, que também segurava uma pistola na direção do grupo. Indiciados, os dois serão convidados da convenção republicana, que começa neste domingo, 23, e confirmará a candidatura de Donald Trump.
O vídeo do casal branco armado contra manifestantes jovens e negros se tornou a imagem da divisão social nos EUA. A presença deles na convenção indica que Trump, mal colocado nas pesquisas, deve apelar cada vez mais para uma base radical. Com a perspectiva de que será derrotado no voto popular, resta ao presidente focar em grupos específicos para garantir a vitória em Estados-chave e ter o maior número de delegados no colégio eleitoral, como em 2016.
Trump chega à convenção com média de 42% das intenções de voto – o democrata Joe Biden tem 51%. A diferença caiu um pouco desde julho, quando passou de 10 pontos porcentuais, mas continua sólida no patamar de cerca de 9 pontos. Em 2016, Trump venceu com o discurso de que era um “outsider”, estratégia que, como atual presidente, não pode repetir.
A eleição será um referendo sobre Trump, que tem sido mal avaliado pela resposta à pandemia, à crise econômica e pressionado pela retórica polarizadora. O presidente, porém, não tem cede diante das críticas. Ao contrário, a estratégia de mobilização de uma base fiel o faz deslocar-se cada vez mais em busca do apoio de radicais contrários aos protestos antirracismo e ao controle no acesso a armas de fogo.
A mensagem deve ser explorada nos quatro dias de convenção, nos quais a mensagem de que Trump adotou a melhor estratégia possível para combater o vírus – que os democratas teriam feito pior – deve ser repetida.
A vantagem de Biden é considerada uma das maiores da história recente, em especial contra um presidente no primeiro mandato. É a maior e mais consistente pontuação, segundo dados do jornal New York Times, dos últimos 24 anos, desde que Bill Clinton liderava a disputa por dois dígitos, em 1996.
Apoiadores do presidente argumentam que Hillary Clinton também era apontada como favorita, segundo pesquisas, na época das convenções. Os números, porém, são mais favoráveis a Biden do que eram a Hillary em 2016. Antes da convenção democrata, Hillary tinha menos de 4 pontos de vantagem sobre Trump e, no seu melhor momento, chegou a ter 7,5 pontos porcentuais de vantagem.
Republicanos se inspiram na virada de 1988, quando George Bush estava 17 pontos atrás do democrata Michael Dukakis, mas virou o jogo com uma campanha negativa agressiva contra o opositor. Em seus ataques, Trump acusa Biden de estar senil e de ter se juntado à “esquerda radical” do partido. Mais recentemente, ele também tem se voltado contra a candidata a vice democrata, Kamala Harris.
Para mudar o cenário desfavorável, Trump precisa de toda a ajuda que puder na convenção. Os republicanos apostam em “pessoas reais”, como Patricia e Mark, o casal de St. Louis, para defendê-lo. O Partido Democrata fez o mesmo, com depoimentos fortes de pessoas afetadas pelo desemprego e pela pandemia, mas a equipe de Trump diz que a oposição usa “atores de Hollywood que encenam ser pessoas reais”, enquanto os republicanos terão trabalhadores “de verdade”.
Trump mantém uma alta taxa de aprovação dentro do partido, mas figuras republicanas tradicionais têm se distanciado dele, inclusive senadores que estão perdendo apoio desde o início da pandemia. Os governadores de Vermont, Phil Scott, e o de Maryland, Larry Hogan, são críticos do presidente. Hogan acusa Trump de ter deixado a população vulnerável durante a crise.
O ex-governador de Ohio, John Kasich, um republicano que foi contrário a escolha de Trump como candidato em 2016, esteve entre os nomes da oposição que participaram da convenção democrata declarando voto em Biden.
A indicação formal do presidente como candidato acontece amanhã, com uma chamada de delegados em Charlotte, na Carolina do Norte, na única parte presencial da convenção. Trump e o vice-presidente, Mike Pence, devem fazer uma breve aparição.
A Carolina do Norte votou em republicanos de Ronald Reagan a George W. Bush, mas escolheu um democrata, Barak Obama, em 2008 e 2012. Agora, Trump e Biden disputam voto a voto os 15 delegados do Estado.
A cidade de Charlotte foi escolhida como sede da convenção há mais de dois anos. Em junho, porém, Trump decidiu mudar o evento para Jacksonville, na Flórida, diante da resistência do governador democrata da Carolina do Norte em flexibilizar regras de distanciamento social.
A mudança não deu certo, porque a Flórida se tornou o epicentro da pandemia nos EUA, o que obrigou a campanha a realizar um novo ajuste no mês passado. Apesar da preferência de Trump por um evento presencial, para passar uma imagem de que o vírus está sob controle, a convenção será quase toda virtual, com o discurso de aceitação de Trump feito da Casa Branca, na quinta-feira, dia 20. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Beatriz Bulla, correspondente
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