Diante da pandemia do novo coronavírus, pais estão deixando de levar os filhos ao pediatra e a postos de vacinação. Gestantes estão iniciando o pré-natal com atraso, mas, mesmo com medo, realizam as demais consultas nas datas corretas. As constatações são de profissionais que participaram de uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) sobre os impactos da covid-19.
O levantamento, apresentado ontem, teve participação de 1.525 profissionais, Ele aponta que 61% dos pediatras relataram queda acentuada no número de consultas e 73% disseram que as crianças deixaram de ser vacinadas no período, algo considerado preocupante pelos especialistas. A pesquisa foi feita entre 20 de julho e 16 de agosto.
“Com medo de levar as crianças para vacinar, os pais estão tirando delas uma grande proteção. É indispensável fazer essa vacinação mesmo em tempos de pandemia”, pondera Luciana Rodrigues Silva, da Sociedade Brasileira de Pediatra. Segundo ela, o levantamento mostra o impacto do isolamento para as crianças.
“Seguramente, essas crianças confinadas em casa ficaram com mais tempo de tela e tiveram alterações comportamentais. Durante a infância é importante a socialização e o contato com outras crianças. É importante que o pediatra oriente que brincadeiras devem ser feitas durante esse período.” Ela recomenda também que os pais envolvam as crianças nas tarefas da casa e pratiquem exercícios em família.
De acordo com a pesquisa, 88% dos pediatras relataram que as crianças apresentaram alterações no comportamento, das quais 75% foram oscilações de humor. E ainda 82% dos pediatras afirmaram que houve aumento das consultas por meios como telefone e WhatsApp.
A funcionária pública Tatiane Ramos de Lira, de 39 anos, levava a filha Ana Julia, de 11 anos, todos os meses às consultas com pediatra. Desde março, isso parou, mas as vacinas estão em dia.
Ela conta que vinha tentando adaptar a rotina e permitir que a filha realizasse atividades como pintura e reuniões virtuais com os amigos, mas a situação mudou quando Tatiane e seu filho mais velho, Fernando, de 19 anos, foram infectados pelo vírus. Eles ainda se recuperam da doença.
A assistente editorial Denise Ieiri, de 29 anos, teve o segundo filho em março e o leva às consultas mensais. Diz sentir-se confortável porque a clínica organizou um esquema que evita o contato entre os pacientes.
Gestantes
Ginecologistas e obstetras observaram um grande temor das gestantes de que os filhos sejam infectados pelo novo coronavírus. “A grávida tem medo de, no decurso da gravidez, se contaminar. A pesquisa mostrou que 57% das mulheres relataram aos médicos que têm medo da transmissão vertical. Há uma memória muito recente do vírus da zika” explica César Fernandes, diretor da Febrasgo.
Apesar de os profissionais terem notado um atraso no início do pré-natal (52%), eles relataram que 89% das mulheres seguiram com as demais consultas nas datas corretas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Paula Felix
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