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E agora? Paulo Guedes fica ou sai?

(Foto: Divulgação)

O pedido de demissão de dois integrantes da equipe econômica – Salim Mattar, secretário de Desestatização e Privatização, e Paulo Uebel, secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital – é algo sério. Se é uma tragédia, ainda não é possível dizer. A melhor maneira de explicar os desdobramentos da notícia que circulou na noite da terça-feira (11) é recorrendo à álgebra básica. Os termos da equação estão razoavelmente dados. O resultado dependerá do valor das incógnitas.

A equação é simples: liberalismo econômico é igual a prosperidade sustentável no longo prazo. Quanto mais economia de mercado, mais crescimento econômico, investimentos, geração de empregos e distribuição de renda. Quanto mais intervenção do Estado, menor a capacidade de a economia se desenvolver.

A notícia da saída de Mattar e Uebel foi agravada pelas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes. Exibindo sua habitual sinceridade, Guedes afirmou que ambos estavam cansados e decepcionados com a lentidão da privatização e das reformas. O ministro usou o termo “debandada” e fez uma enfática defesa da estabilidade das contas públicas, da austeridade fiscal e da iniciativa privada.

Há mesmo uma “debandada” da equipe econômica? Essa notícia tem de ser vista como um grão de sal. O primeiro a sair foi Mansueto Almeida, que se demitiu do Tesouro Nacional para ser economista-chefe do BTG Pactual. Almeida estava com sua saída marcada há tempos. Concordou em ficar mais um tempo no governo, mas sua demissão não surpreendeu quem acompanha o noticiário. Economista respeitado, Almeida não saiu por fritura nem por divergências. Simplesmente buscou melhorar de vida.

Em seguida, Rubem Novaes anunciou sua saída da presidência do Banco do Brasil, afirmando que o fazia por motivos pessoais. Ele conseguiu fazer pouca coisa para privatizar uma estatal com servidores de carreira. Porém, sua substituição por André Brandão, ex-presidente do HSBC Brasil, não deve causar maiores traumas. Brandão é um executivo competente e discreto, e tem muita experiência com o setor bancário.

A saída de Caio Megale da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda é a única baixa comparável à de Mattar e de Uebel. Megale não escondia que estava insatisfeito com o cargo e desejoso de voltar a São Paulo e à iniciativa privada. Com bom trânsito no sistema financeiro, Megale fará falta, assim como Salim Mattar e Paulo Uebel farão falta.

O que esperar disso? No curto prazo, as repercussões serão ruins. Espera-se um dia de forte volatilidade dos ativos nesta quarta-feira (12). No médio e no longo prazos, o resultado dependerá da variável liberalismo econômico. A saída de Salim Mattar e de Paulo Uebel mostra que há pressões dentro do governo para reduzir a aderência aos princípios de austeridade fiscal. Essas pressões são normas e esperadas dentro de qualquer democracia.

Se a visão de Paulo Guedes prevalecer, se o governo perseverar na visão correta do equilíbrio das contas públicas e na redução do tamanho do Estado, as demissões serão apenas um solavanco no caminho. Se, ao contrário, o governo sucumbir às tentações populistas de gastar mais no curto prazo e adiar o encontro com a verdade das contas, Guedes não fará nenhuma diferença ficando no cargo ou saindo dele.

Vendas no varejo

O volume de vendas do varejo cresceu 8% em junho, após a alta recorde de 14,4% em maio, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada na manhã desta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dos números positivos nesses dois meses, o varejo fechou o primeiro semestre com uma queda de 3,1% frente ao primeiro semestre de 2019. O resultado superou as expectativas, que eram de uma alta de 5% em junho e de uma queda de 4,1% no primeiro semestre. Foi o menor resultado semestral desde a queda de 5,6% no segundo semestre de 2016.

A mudanças na equipe econômica são um sinal ruim para a estabilidade das contas públicas. Espera-se uma repercussão negativa sobre os preços dos ativos, com queda das ações, alta das taxas de câmbio e mesmo uma volatilidade eventual nas curvas de juros.

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