Os dois homens que na última quinta-feira, 6, renderam e ameaçaram um cliente negro do Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador (zona norte do Rio), prestaram depoimento nesta segunda-feira, 10, à 37ª DP (Ilha do Governador). Eles foram identificados como os policiais militares Diego Alves da Silva, soldado do Batalhão de Choque, e Gabriel Guimarães Sá Izaú, sargento lotado no programa Segurança Presente.
Segundo a administração do shopping, ambos trabalhavam para uma “empresa de consultoria de segurança”, que foi afastada. Os dois PMs são investigados pelos crimes de racismo e abuso de autoridade contra o jovem Matheus Fernandes, de 18 anos, que trabalha como entregador de comida por aplicativo e foi ao shopping para trocar um relógio numa unidade das Lojas Renner.
Após o depoimento, o advogado Ricardo Chagas, que defende Izaú, afirmou que seu cliente não agrediu Fernandes nem o obrigou a ir até a escada de incêndio – ao contrário do que as imagens demonstram. “O garoto estava filmando ele e ele se sentiu constrangido e foi saber o que estava acontecendo. Ele (Fernandes) não foi agredido, não houve agressão”, afirmou o advogado. “(O PM) não levou para a escada. Não houve, eles caíram. Na hora que ele tirou ele da passagem, ele esbarrou e caiu”, disse.
Chagas negou que o PM tenha discriminado o entregador: “Em hipótese alguma houve ali alguma discriminação. Simplesmente, o rapaz passou por ele, ficou encarando ele e ele falou: pô, o que tá acontecendo?”, disse o advogado. O outro policial e seu advogado saíram da delegacia meia hora depois e não falaram com a imprensa.
O delegado Marcos Henrique, que investiga o caso, afirmou que “as imagens são muitos claras”: “A abordagem foi uma abordagem inadequada, truculenta. Houve ali um erro de avaliação e eles responderão penalmente por isso”. Segundo ele, os PMs negaram ter abordado Fernandes por ser negro: “Informaram que abordaram Matheus não pela sua cor da pele, deixaram bem claro que agiram em função de algumas circunstâncias: o boné que Matheus usava fazia referência ao chefe do tráfico do Dendê, já falecido, que Matheus passou encarando os policiais e estava filmando”, contou o delegado.
Entenda o caso
Fernandes foi rendido e ameaçado por dois homens que se identificaram como policiais enquanto aguardava atendimento numa unidade das Lojas Renner, dentro do Ilha Plaza Shopping. Armados, os dois homens obrigaram Fernandes a sair da loja e seguir até uma escadaria, onde ele foi ameaçado e teve que entregar a carteira com documentos.
Um segurança do shopping presenciou o episódio, mas não interferiu – segundo o shopping, isso ocorreu porque os dois rapazes se identificaram como policiais. Após protestos dos clientes do shopping, Fernandes foi libertado e a dupla foi embora – segundo a vítima, levando seu cartão bancário.
Fernandes foi ao shopping para trocar um relógio que havia comprado para o Dia dos Pais. Enquanto aguardava o atendimento em um balcão dentro da Renner, foi abordado pela dupla. “Eles tiraram foto minha, e eu senti que tinha alguma coisa errada”, contou o entregador em um vídeo divulgado pelas redes sociais.
“Eles vieram falar que eu era suspeito de furto, porque estava com um relógio, mesmo tendo a etiqueta e a nota fiscal. Aí disseram que eu sou suspeito de furto, e começaram a me segurar, empurrar, balançar. Quando menos esperei, o rapaz da camiseta vermelha me deu uma banda, sacou a pistola pra cima de mim, botou a pistola aqui (aponta a cabeça), pensei que ele ia me matar. Eu comecei a gritar, para ver se alguém que me conhecia tomava alguma providência”.
Imagens do entregador rendido pelos dois rapazes, sob o olhar de um segurança do shopping, foram gravadas e circularam pelas redes sociais.
Em nota, as Lojas Renner afirmaram que “os agressores não integram o nosso quadro de colaboradores ou de prestadores de serviço” e que “estamos tomando as medidas necessárias para esclarecer o fato e buscando contato com o Matheus Fernandes para dar a ele o suporte necessário”.
A administração do Ilha Plaza Shopping, que na sexta-feira havia informado que “os agressores não são funcionários do shopping tampouco funcionários da empresa de vigilância do shopping”, no domingo, 9, emitiu nova nota afirmando que “a administração do shopping afastou a empresa de consultoria de segurança contratada”. Os dois PMs fariam parte dessa empresa.
Por Fábio Grellet
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