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A nova maneira de investir em ouro

(Foto: Shutterstock)

Em um cenário de incertezas causado pela pandemia da Covid-19, pela tendência de baixa no dólar e pelos juros baixos no mundo, o movimento natural é que os investidores apostem cada vez mais em renda variável. Porém, cada vez mais os ativos reais cumprem um papel de proteção ao portfólio. Nestes casos, o que reluz pode, sim, ser ouro. Na terça-feira (4), o contrato futuro mais líquido do metal fechou acima da marca de US$ 2 mil a onça-troy (31,1 gramas) pela primeira vez na história. As cotações em alta e o perfil de proteção levaram à criação de mais alternativas de investimentos, como os fundos atrelados a ouro. Alguns bancos e corretoras brasileiras já oferecem esse produto e executam as operações.

Caso do banco BTG Pactual que tem dois fundos de ouro: BTG Pactual Ouro FI Mult e BTG Pactual Ouro USD FI Mult, ambos lançados em 2019. Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual Digital, explica que em um dos fundos o cliente está exposto apenas ao ouro, e no outro, ao ouro e ao dólar. “Hoje o fundo compra contratos futuros de Chicago, que é um mercado muito mais líquido. Então, ele tem um fundo que está ‘hedgeado’, ou seja, o câmbio também está protegido. E tem o que não está ‘hedgeado’, ou seja, está exposto ao câmbio e a commodity”, explica. “Eu particularmente prefiro o que está ‘hedgeado’, porque assim o investidor está exposto basicamente à tese que ele quer aplicar, que é o ouro”, observa.

Os fundos do BTG Pactual têm aplicação mínima de R$ 500,00 e taxas de administração de 0,010%. “O fundo permite ao cliente ter acesso a um contrato negociado na bolsa de Chicago com aplicação de R$ 500”, garante. De acordo com Zanlorenzi, a procura aumentou muito. “Temos visto um aumento na procura de 50 vezes acima da média para essa commodity. O salto começou no início da crise da pandemia, já percebemos o primeiro choque no Carnaval.”

Outro exemplo de fundo atrelado a ouro foi lançado em junho pelo BS2. “Nosso fundo funciona como se o investidor comprasse um pedacinho de ouro lá fora. É uma forma democrática de investir, porque uma onça de ouro hoje custa US$ 2 mil e por meio do fundo é possível acessar esse mercado com tickets menores”, afirma Christiano Ehlers, diretor de investimentos do BS2. Segundo ele, o número de aplicações e o patrimônio do fundo vêm crescendo bastante nesse mês e meio após o lançamento, sem divulgar os números. A aplicação mínima também é de R$ 500,00 e a taxa de administração é de 0,4%.

De acordo com Ehlers, atualmente existem pelo menos quatro fundos no mercado ligados ao ouro. Mesmo assim, o investidor brasileiro ainda é um pouco carente de opções para investir no metal. “Nos Estados Unidos, por exemplo, você tem várias formas de investir em ouro. Existem ETFs de ouro, ETFs de mineradoras de ouro, ações de mineradoras de ouro, prata e metais preciosos”, afirma.

Por aqui a opção mais comum é o índice futuro de ouro, mas que não é para qualquer um. “Operar no mercado futuro costuma ser indicado para os investidores mais sofisticados, que entendem como funcionam os mercados futuros”, destaca.

Ehlers pontua que, historicamente, o ouro sempre foi uma boa opção de diversificação de portfólio. Mesmo em tempos de calmaria, os grandes alocadores gostam de ter determinadas proteções. “O ouro sempre foi uma dessas proteções. Mas nesse momento ele virou uma excelente opção para gerar performance. De certa forma o que está acontecendo inclui outras commodities como a prata que também estão em alta.”

Riscos

O ouro tem risco como qualquer ativo de renda variável. Ele é uma commodity, então, seus preços são voláteis. “O cliente que nunca teve experiência com ouro precisa estar atento ao fato de que ele é um ativo com volatilidade”, diz Zanlorenzi. “O produto está em evidência, a tese de investimento em ouro é positiva, mas eventualmente os preços podem cair 2% ou 3% em um dia.” Ele acrescenta que, como ocorre com qualquer investimento, é possível que a tese, hoje positiva, mude. “É importante o cliente estar consciente disso”, diz ele.

Zanlorenzi diz que é importante o cliente estar sempre acompanhando as tendências do mercado e buscando informação. “O ouro vai ter uma volatilidade semelhante à da bolsa em alguns momentos e o cliente deve dedicar a ele uma parcela pequena do patrimônio”, afirma. Ehlers, do BS2, compara o desempenho do metal com o da renda variável. “Em um período de tempo mais longo, se o portfólio de bolsa estiver indo muito bem, o ouro provavelmente não vai acompanhar esse desempenho. Porém, quando a bolsa não for tão bem, o ouro provavelmente vai performar mais”, diz ele.

Recomendação

Um relatório do banco BTG Pactual indica que, em 2020, investimentos atrelados à variação do valor do ouro já subiram mais de 14% em dólares. Já outros ativos, também considerando a variação em dólares, apresentaram um desempenho bem pior. Por exemplo, no acumulado do ano, os títulos do Tesouro americano com dez anos de prazo amargaram uma queda de 68%, as cotações do barril de petróleo do tipo WTI caíram 53% e o índice Dow Jones recuou 17%.

“Certamente, investidores que estavam posicionados neste ativo antes da crise capturaram a maior parte da valorização”, diz Zanlorenzi. Ele afirma que a análise atual mostra que o investimento em ouro é justificado pela injeção de liquidez no mercado pelos bancos centrais e pela abundância de capital no sistema financeiro. “Nos próximos 24 meses vão sobrar muitos recursos no sistema financeiro global, e o ouro acaba sendo um grande papel de alocação nisso”, diz.

Segundo Zanlorenzi, 2020 vai continuar sendo um ano complexo. No cenário internacional, as eleições americanas e as tensões entre China e os Estados Unidos vão aumentar a volatilidade. No Brasil ainda há grande dúvidas sobre o crescimento e sobre a continuidade da agenda de reformas. Ou seja, há pelo menos quatro fatores de risco que vão fazer parte do dia a dia do investidor brasileiro até o fim do ano. “O investidor tem razões para querer ter proteção no portfólio”, afirma.

Já Christiano Ehlers, do BS2, destaca que o cenário de incertezas e juros baixos não será de curto prazo. Segundo ele, há alguns anos, com 14% ou 15% de juros ao ano no Brasil, qualquer investimento em ativos exigia um cálculo do custo de oportunidade. Agora, com o juro está bastante baixo, essas trocas ficam mais fáceis. E também tem o fator de que os investidores pessoa física de um modo geral vão ter que gradualmente aumentar os investimentos em bolsa ou ativos de risco e o ouro acaba sendo uma forma de proteção.

“O patamar de juros a 2% ao ano que chegou na quarta-feira (5) é um patamar que muita gente achou que nunca chegaria. E as pessoas também vão perceber que será muito interessante ter no portfólio alguns ativos reais. Como diversificação sempre fez sentido, porém, agora mais do que nunca está fazendo sentido investir em ouro.”

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