O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aproveitou a recuperação das cotações de ações na Bolsa nos últimos meses, após o choque da crise da covid-19, para pisar no acelerador na estratégia de reduzir sua bilionária carteira de participações acionárias. O banco vendeu R$ 8,1 bilhões em ações da Vale – o equivalente a 2,5% do capital da mineradora – apenas uma semana após levantar R$ 1,27 bilhão com a venda de papéis da geradora de energia AES Tietê, em negociação com o controlador da empresa. O BNDES acumula, na gestão de Gustavo Montezano, vendas na casa de R$ 35 bilhões.
Acelerar a redução da carteira de ações era uma das metas de Montezano desde o início de sua gestão no BNDES há um ano, em julho de 2019, mas a crise do novo coronavírus deu um banho de água fria nesse movimento e congelou as vendas.
Um mês antes de a covid-19 se abater sobre as bolsas, o BNDES tinha conseguido vender suas ações com direito a voto da Petrobrás, numa oferta pública que levantou cerca de R$ 22 bilhões. Antes disso, em 2019, a diretoria de Montezano se desfez de toda a participação no frigorífico Marfrig e, na virada para 2020, da fatia na distribuidora de eletricidade Light.
Com a melhora dos mercados – um movimento global, impulsionado pela injeção de trilhões de dólares nos sistemas financeiros -, já se esperava a retomada das vendas pelo BNDES. O Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, ainda acumula queda de 12% em 2020, mas as perdas já foram muito maiores. De 23 de março, fundo do poço, até agora, o Ibovespa já subiu cerca de 60%. Mesmo com a crise, o BNDES vinha sinalizando que retomaria as vendas quando as cotações melhorassem.
Ao confirmar a venda das ações da Vale, numa postagem na rede social LinkedIn, Montezano voltou ao tema: “O que muda para nossas crianças se o BNDES perde ou ganha 10% especulando na bolsa de valores? O que isso melhora nosso meio ambiente? A função do BNDES é, sim, gerar muito lucro para nossa sociedade.”
Em alta
O BNDES aproveitou o bom desempenho das ações da Vale. No acumulado de 2020, os papéis da mineradora acumulam alta em torno de 13%, na contramão do Ibovespa. Segundo analistas, as ações da Vale tendem a manter o bom desempenho, mesmo em meio à pandemia, porque os fundamentos da economia da China, maior cliente da mineradora, deverão sustentar as cotações.
Na postagem, Montezano informou que a venda foi feita a R$ 60,26, mesma cotação de segunda-feira, e apenas 4% abaixo do valor máximo da ação. Os R$ 8,1 bilhões foram levantados com a venda do equivalente a 2,5% do capital total da Vale, menos da metade da fatia detida pelo BNDES. Antes da operação, o banco tinha 6,12% do capital, avaliado em cerca de R$ 19 bilhões, pela cotação atual.
Com a mineradora brasileira próxima a se tornar uma companhia de capital pulverizado, sem controlador definido – uma “corporation”, no jargão do mercado -, a operação do BNDES leva também a uma redução da participação do governo, privatizada em 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso. O governo possui participação indireta por meio do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ. Procurada, a Vale não comentou a operação do BNDES.
Agora, o banco deverá reorganizar as prioridades de venda. Logo após a megaoferta de papéis da Petrobrás, no início de fevereiro, a próxima da fila era o frigorífico JBS – o BNDES poderia levantar R$ 16 bilhões, a valores de antes da covid-19 -, mas as fatias nas fabricantes de celulose Suzano e Klabin, cujas ações estão em alta, tendem a passar à frente.
Com desvalorização de 27% em 2020, os papéis sem direito a voto da Petrobrás, que ainda é a maior participação do banco de fomento – R$ 14,7 bilhões no fechamento do primeiro trimestre -, também deverão ficar para depois. (Colaborou Matheus Piovesana)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernanda Guimarães e Vinicius Neder
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