O mercado de títulos de dívida temáticos, os chamados “títulos verdes, sociais ou sustentáveis”, somou US$ 328 bilhões em emissões em todo o mundo no ano passado, alta de 57% ante 2018, conforme dados compilados no início de junho passado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O crescimento “rápido” ainda é tímido na América Latina e no Caribe, mercados que responderam por apenas 2% (US$ 6,4 bilhões) das emissões globais, mas isso representa uma “oportunidade” para a região, segundo Maria Netto, especialista do BID no assunto.
“Há um enorme potencial. A América Latina tem um DNA verde importante, mas ainda não usou esse ativo a fundo”, afirmou Maria, ao abrir o seminário online “Tendências dos Títulos Verdes e Sustentáveis no Brasil: o que procuram os investidores e emissores?”, promovido pelo BID em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a B3.
Os dados compilados pelo BID, com base em informações da agência Bloomberg, foram apresentados na palestra de abertura. Até o início de junho, foram emitidos US$ 122 bilhões no mercado global em 2020, sendo US$ 3,9 bilhões na América Latina e no Caribe.
A especialista do BID lembrou que o mercado de títulos temáticos foi criado há pouco mais de dez anos, com os chamados “green bonds”, e tem crescido na esteira das demandas dos investidores, que dão cada vez mais importância para a “gestão de riscos e governança” em torno dos “impactos sociais e ambientais” gerados pelos negócios. Na esteira dos “green bonds”, o mercado passou a incluir os títulos sociais, com foco em impactos sociais, e sustentáveis, que podem ser conectados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas.
Em linhas gerais, esses papéis são emitidos pelas empresas para levantar recursos destinados ao financiamento de projetos com impacto ambiental ou social positivo, em áreas tão diversas como reflorestamento, transporte público ou energia renovável. São um atrativo para os investidores porque garantem que o investimento terá uma pegada de sustentabilidade.
No Brasil, o investimento pode ser feito por meio de debêntures, debêntures incentivadas (de infraestrutura), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) – todos esses papéis são títulos de dívida.
No seminário online, com a participação de outros especialistas e a apresentação de casos bem-sucedidos de emissões do ano passado, feitos pela fabricante de papelão ondulado Celulose Irani e pela indústria química Grupo Sabará, foram discutidos entraves e pontos de atenção para o desenvolvimento do mercado no Brasil.
Maria Netto, do BID, destacou a importância de as empresas emissoras terem um compromisso real com boas práticas socioambientais anteriormente à emissão dos títulos em si. Também foram destacadas a importância de se aderir a padrões já estabelecidos lá fora para definir as regras de investimento dos títulos e as metodologias de como reportar o uso dos recursos em relatórios para os investidores. Outro ponto importante é o uso de certificadores independentes, para dar garantias aos investidores de que os recursos levantados com as emissões têm os impactos esperados.
Por Vinicius Neder
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