As novas condições de vida, trabalho e investimento tendo em vista a pandemia do coronavírus e as medidas sanitárias e econômicas tomadas pelas autoridades para combatê-la exigem uma nova maneira de olhar e de analisar os fatos, especialmente os não econômicos, e sua influência sobre os preços dos ativos financeiros.
Um bom exemplo foi a decisão americana da terça-feira (21) de obrigar a China a fechar seu consulado em Houston, sob a alegação de que “hackers” chineses estariam tentando roubar informações sobre vacinas contra o coronavírus que estão em desenvolvimento. Na quarta-feira (22) o governo em Pequim revidou, dizendo que estuda fechar consulados americanos na China. Apesar de falar em várias representações diplomáticas, o mais provável é que apenas o escritório de Wuhan seja fechado. Mesmo simbolicamente importante, pois foi lá que surgiu a pandemia, e economicamente relevante, Wuhan não tem o mesmo peso econômico e politico de Pequim, Xangai ou Shenzen. Assim, a decisão exerceu pouco efeito sobre os mercados.
Em circunstâncias normais, um atrito diplomático como esse provocaria uma boa dose de turbulência nos mercados. No entanto, a “não reação” das bolsas pode indicar que a maneira dessa entidade chamada mercado operar está mudando. Em vez de dar atenção às rusgas retóricas, tradicionalmente amplificadas na antessala das eleições, os investidores estão mais atentos a dados concretos. Entre eles, os resultados das empresas americanas no segundo trimestre (que vêm surpreendendo positivamente) e as boas expectativas do outro lado do Atlântico.
É bastante provável que essa atitude permaneça durante algum tempo. Depois de sofrer com as incertezas da pandemia e oscilar com a indefinição, os investidores estão voltando a dar mais atenção aos altos e baixos da economia real. E a atuação firme dos governos e dos bancos centrais para estimular a economia está fazendo efeito, ainda que não imediatamente. Por isso o movimento de alta moderada nos pregões internacionais na manhã desta quinta-feira (23), que deverá animar também as cotações no Brasil e nos Estados Unidos.
A melhora das perspectivas econômicas, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, deverá justificar um dia positivo no mercado brasileiro.
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