Um relatório do Parlamento britânico afirmou nesta terça-feira, 21, que o governo do Reino Unido e as agências de inteligência falharam em conduzir uma avaliação adequada sobre as tentativas do Kremlin de interferir no referendo do Brexit, em 2016, que determinou a saída do país da União Europeia. O documento de 50 páginas produzido pela Comissão de Segurança exige que a comunidade de inteligência investigue a possível interferência e torne públicas suas descobertas.
O tão esperado relatório parlamentar afirmou que a Rússia tentou influenciar o referendo em 2014, quando os eleitores na Escócia rejeitaram independência. “Surgiram comentários críveis dando a entender que a Rússia realizou campanhas de influência em relação ao referendo escocês de independência em 2014”, informou o relatório, que foi finalizado em março de 2019, mas ficou guardado até esta semana.
O relatório mostra que também existem fontes de código aberto segundo as quais a Rússia teria tentado influenciar a campanha do Brexit, mas ressalta que o governo britânico não procurou indícios profundos de intromissão. A Comissão de Segurança, que avalia o trabalho das agências de espionagem do Reino Unido, informou que não recebeu nenhuma avaliação pós-referendo das tentativas de interferência russas.
“Esta situação contrasta com o tratamento americano de alegações de interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, onde uma avaliação da comunidade de inteligência foi produzida dentro de dois meses após a votação, com um resumo sendo tornado público”, diz um trecho do documento, de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Ainda segundo o jornal, os membros da comissão disseram que não puderam concluir definitivamente se o Kremlin interferiu ou não com sucesso na votação do Brexit porque nenhum esforço foi feito para descobrir. O governo do primeiro-ministro Boris Johnson, que chegou ao poder como uma das principais figuras da campanha vitoriosa de deixar a União Europeia, respondeu dizendo que não havia evidências de intervenção russa “bem-sucedida” no referendo. O governo rejeitou qualquer pedido de revisão.
O relatório também considerou a Rússia uma potência hostil que representava um ameaça significativa para o Reino Unido e o Ocidente em várias frentes – de espionagem e cibernética até intromissão nas eleições e lavagem de dinheiro sujo. “Parece que a Rússia considera o Reino Unido um dos seus principais alvos de inteligência ocidentais “, afirmou o relatório.
A comissão retratou a Rússia como uma fonte de dinheiro corrupto que foi bem recebida em Londres, a principal capital financeira do mundo. “O Reino Unido tem sido visto como um destino particularmente favorável para oligarcas russos e seu dinheiro”.
O Kremlin disse que a Rússia nunca interferiu em processos eleitorais do Reino Unido e negou repetidamente qualquer acusação de intromissão no Ocidente, dizendo que os Estados Unidos e o Reino Unido são dominados “histeria antirrussa”. “A Rússia nunca interferiu nos processos eleitorais de qualquer país”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse que o relatório tem a ver com “russofobia”. As relações entre Londres e Moscou pioraram após o Reino Unido culpar a Rússia por envenenar o ex-espião russo Sergei Skripal e sua filha Yulia na cidade inglesa de Salisbury.
Por Redação
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