O presidente da BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, Larry Fink, disse nesta sexta-feira, 17, que os investidores pensam cada vez mais em como reposicionar seus portfólios em meio às mudanças climáticas. Ao participar da Expert, congresso promovido neste ano virtualmente pela XP, Fink salientou que risco climático é risco de investimento, de modo que os investidores que não derem foco a isso terão problemas sérios em suas carteiras.
Ao dar exemplos da maior atenção dos mercados a questões ambientais, ele disse que, em meio a uma entrada recorde de investidores em fundos que investem em índices de ativos sustentáveis, quase 80% dos instrumentos financeiros considerados sustentáveis tiveram desempenho superior a índices tradicionais no primeiro semestre deste ano.
Na avaliação de Fink, o ESG (sigla em inglês do conceito de sustentabilidade ambiental e social) será cada vez mais “dominante” nos mercados. “A questão fundamental da mudança climática vai crescer muito e as pessoas vão reconhecer que há um risco de investimento.”
Para o CEO da BlackRock, essa transformação acontece mais rápido na Europa. “Os europeus entenderam que as mudanças climáticas são um risco social. Os europeus já estão mudando a forma como investem. Isso está acelerando na Europa mais do que nunca.”
Já nos Estados Unidos, na Ásia e na América Latina, existem governos mais atentos e outros que negam o aquecimento global. As políticas, disse, variam e dependem muito das forças econômicas de cada pais.
Brasileiros começam a diversificar portfólio de investimentos
Para Fink, os brasileiros, historicamente, gostam de investir dentro do próprio País, mas essa situação vem mudando com a rentabilidade decrescente dos títulos públicos, na esteira do ciclo de cortes na taxa básica de juros. Segundo ele, cada vez mais países e cidadãos, incluindo os brasileiros, estão se tornando “investidores do mundo”.
“A razão histórica para os brasileiros terem mais investimentos dentro do próprio país é que a taxa de juros sempre foi tão alta que era possível obter um retorno maior com títulos do que com qualquer outro investimento”, disse. “Obviamente, isso mudou muito agora, especialmente considerando a taxa que se consegue em relação à inflação.”
Segundo Fink, movimentos de realocação de portfólio, com a entrada de ativos internacionais, aconteceram em todos os países onde houve encolhimento das taxas de juros e os investidores, com a migração para as bolsas, buscaram diversificar riscos em mercados internacionais.
“Acho que o Brasil está começando a ser um país com esse dinamismo de maior diversificação e visão mais ampla de portfólio global”, disse o presidente da BlackRock.
Sobrevivência das médias e pequenas empresas
Larry Fink disse também que, embora a pior fase de contágios pela covid-19 ainda não tenha ficado para trás, a injeção de recursos sem precedentes dos bancos centrais nos mercados, em resposta ao choque da pandemia, impulsionou os ativos financeiros, abrindo a grandes empresas uma capacidade inédita de se financiar no mercado de capitais.
O executivo disse, porém, que a maior incerteza reside na sobrevivência das pequenas e médias empresas, especialmente em setores como serviços de alimentação e turismo, cuja viabilidade será testada por mudanças de comportamento do consumidor. “Muitas partes da economia não voltarão para o que conhecemos”, afirmou Fink.
Ao tratar do rali visto nas bolsas num contexto de alta liquidez internacional e taxas de juros reduzidas, o presidente da BlackRock lembrou da situação da Boeing. Antes da pandemia, a expectativa era de que a fabricante de aviões precisaria ser socorrida pelo governo para não quebrar em meio à crise aberta pelos dois desastres aéreos com o modelo 737 MAX num intervalo de cinco meses.
Porém, como observou Fink, diante da liquidez provida pelo Fed, o banco central americano, e com a estabilização dos mercados a partir de abril, a Boeing conseguiu levantar US$ 25 bilhões em títulos emitidos no mercado de capitais, estabilizando seu futuro financeiro. “As empresas com acesso a mercado de capitais tiveram uma capacidade inédita de aumentar dívida ou patrimônio”, comentou Fink.
“A pergunta para a qual não sabemos a resposta é sobre qual é a viabilidade de muitas pequenas e médias empresas”, complementou o executivo. A resposta, disse Fink, deve ser conhecida nos próximos dois ou três meses.
Segundo ele, fundos de pensão estão sentados em cima de uma montanha de dinheiro e as empresas mostram em seus balanços uma liquidez sem precedentes, mas, ainda que exista um volume “imenso” de dinheiro a ser investido, a tendência de recuperação global pode sofrer uma reversão se o mundo não conseguir conter a pandemia.
“É difícil prever onde o mercado estará em um ou três meses. Porém, se os números da doença continuarem crescendo, com aumento de mortalidade, teremos outra reversão nas economias. Nesse cenário, as pequenas e médias empresas terão um grande problema”, disse.
Por Eduardo Laguna, especial para o Estadão/Broadcast, e André Ítalo Rocha
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