Indicadores mistos de atividade da China informados na madrugada desta quinta-feira, 16, provocam dúvidas nos mercados quanto à solidificação da retomada do gigante asiático, bem como da economia mundial. Esse temor pesa negativamente sobre as bolsas norte-americanas e na maioria das bolsas europeias. O petróleo também cai e o minério de ferro negociado no porto chinês de Qingdao fechou em baixa de 0,61%, a US$ 111,62, contribuindo para a queda das ações da Petrobrás e da Vale, ambas com recuo na faixa de 1% perto das 11 horas.
Apesar de os pedidos de auxílio-desemprego terem caído 10 mil na semana nos EUA, a 1,3 milhão, ante previsão de 1,25 milhão, o tom permaneceu negativo, bem como depois da informação de que as vendas no varejo subiram 7,5% em junho no confronto com maio no país, ficando maior que a previsão de 5,2%.
A despeito de ter deixado suas taxas de juros inalteradas, o Banco Central Europeu (BCE) reiterou hoje que continua disposto a ajustar “todos os seus instrumentos”, conforme for apropriado. As principais taxas de juros do BCE, a de refinanciamento e a de depósitos, permaneceram em 0% e -0,50%, respectivamente. A presidente da instituição, Christine Lagarde, disse que os recentes mostram incipiente retomada da economia da zona do euro e que as perspectivas para o ritmo de recuperação são incertas.
O dia já começou com os mercados realizando lucros, justificada pelos números chineses. No entanto, avalia o economista Carlos Lopes, do BV, os números do gigante asiático vieram bons, exceto pela surpresa negativa nas vendas do varejo. “Parece mais uma correção. O mercado andou bastante nos últimos dias”, afirma.
O externo desfavorável somado a uma nova crise entre o Executivo e o Congresso devem fazer com que o índice Bovespa passa por uma realização, após tocar ontem os 102 mil pontos, mas fechando aos 101.790,54 pontos, em alta de 1,34%.
As ações ligados ao saneamento são algumas das que devem ficar no centro das atenções hoje. Depois de ter assinado ontem a sanção do novo marco legal do setor, o presidente Jair Bolsonaro vetou o trecho que garantia a renovação dos contratos das empresas estaduais do segmento por mais 30 anos. A medida incomodou governadores e parlamentares, provocando uma crise entre o Executivo e o Congresso.
Um outro foco de atenção vem da informação de que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), reagiu ao movimento da Câmara de pautar uma reforma tributária própria e ignorar a comissão mista criada para discutir a medida com o governo do presidente Jair Bolsonaro. Enquanto isso, o Ministério da Economia deve apresentar até hoje a primeira fase de sua proposta de reforma tributária. De acordo com fontes da pasta, a primeira etapa trará a unificação do PIS e da Cofins, que dará origem a um imposto sobre valor adicionado chamado de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Já nas próximas etapas será a criação de um tributo sobre transações digitais, a chamada Contribuição sobre Pagamentos (CP).
“Claro que esses ruídos políticos não ajudam, mas a Bolsa deve continuar acompanhando mais o exterior”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa institucional da Renascença. Em sua análise, os dados da economia chinesa trazem incômodo pois não adianta somente alguns índices apontarem melhora, enquanto outros, não.
Além disso, há um avanço considerável de novos casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, principalmente nos EUA, que pode atrapalhar a retomada global, acrescenta. “Não adianta só a China crescer, é preciso que o restante também cresça”, afirma.
Após queda de 6,8% no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês subiu 3,2% no segundo trimestre, ficando acima do consenso, de 2,6%. Já a produção industrial acelerou 4,8% em junho. Porém, as vendas do varejo tiveram queda anual inesperada de 1,8% no mês passado.
Às 10h54, o Ibovespa cedia 0,57%, aos 101.206,64 pontos. Em Nova York, as quedas eram de 0,51% (S&P 500), de 0,28% (Dow Jones) e de 1,01% (Nasdaq). As ações do Twitter caem forte após invasão de perfis.
Por Maria Regina Silva
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