Segundo pesquisas do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe) os empréstimos bancários líquidos totalizaram R$ 74,8 bilhões no primeiro trimestre deste ano, 32% acima do observado no último trimestre de 2019 e bem diferente do observado no mesmo período do ano passado, quando o saldo das operações bancárias ficou negativo em R$ 6,1 bilhões.
Ainda de acordo com as pesquisas, o saldo de crédito bancário superou o saldo da captação das companhias via mercado de capitais (emissão de ações e dívidas), uma conjuntura bem diferente da constatada em todos os trimestres de 2019, quando o mercado de capitais superou o crédito via instituição financeira em todos os períodos.
Com a injeção de mais de R$ 1 trilhão no sistema financeiro por parte do Banco Central (BC) e a necessidade das companhias de reforçar sua liquidez e reduzir a alavancagem devido a Covid-19, houve uma corrida das grandes empresas para captar créditos pré-aprovados nos bancos. Esses empréstimos são um instrumento adicional para aumentar a posição de caixa, honrar seus compromissos de curto prazo e de se proteger dos desdobramentos da crise.
Além disso, diversas companhias acessaram o mercado de crédito para realizar a rolagem das suas dívidas, uma forma de obter fôlego no desafiador cenário de curto prazo e postergar seus compromissos para os próximos anos, contraindo uma nova dívida com prazo mais longo e com custo financeiro maior.
Contudo, a tendência é que haja um arrefecimento das captações nos meses seguintes, posto que há um efeito antecipação das operações anteriormente planejadas para o segundo trimestre deste ano. Além disso, o mercado de capitais voltou com força após abril e acelerou a partir de junho. Sem dúvidas o protagonismo do mercado de capitais no Brasil é algo que veio para ficar.
A notícia é positiva para o setor bancário da bolsa, a citar, principalmente, os grandes bancos (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) que juntos representam aproximadamente 25% do índice Bovespa. Contudo, acreditamos que o impacto positivo deverá vir combinado com outros fatores nos seus resultados e que serão demonstrados apenas na temporada de resultados do segundo trimestre de 2020.
Por esse motivo, esperamos que o desempenho das ações dos grandes bancos fique em linha com o Ibovespa na sessão desta quinta-feira (9).
Embora o setor seja parte da solução nesta crise, o desempenho das suas ações no ano segue abaixo da média do mercado, reduzindo o desempenho do índice mais importante do mercado acionário no Brasil. O Índice Setorial Financeiro (IFNC), que contempla não apenas os bancos, mas inclui outras instituições como seguradoras, meios de pagamento e a própria B3, recua 19,6% no ano, desempenho inferior ao do Ibovespa, que tem perdas de 13,7%.
O panorama do aumento do crédito bancário é uma das poucas notícias positivas para o setor neste ano. Se já não bastasse o cenário desafiador no setor financeiro com o aumento da concorrência, open-banking e o PIX, os bancos seguem sendo atormentados pelo risco regulatório, dado que o Congresso e o Senado se mostram bastante favoráveis a interferência no setor, com o aumento da taxação ou via imposição de taxas limites em algumas linhas de crédito ligadas às pessoas físicas.
Os principais catalisadores das ações dos bancos são: i) avanço das pautas “bomba” para o setor no Congresso e no Senado e; ii) resultados do segundo trimestre de 2020, em especial as linhas relacionadas às carteiras de crédito, a inadimplência e a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD).
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