O dólar firmou queda nos negócios da tarde, após dois dias de alta. A sessão foi marcada pelo enfraquecimento da moeda americana no exterior, após notícias animadoras sobre uma vacina para combater o coronavírus, mas com o crescimento de casos nos Estados Unidos no radar. A melhora da atividade doméstica, hoje evidenciada por vendas no varejo melhores que o previsto, também ajudou a fortalecer o real, enquanto o Ibovespa voltou a encostar nos 100 mil pontos, que haviam sido perdidos com a pandemia do coronavírus.
Ao mesmo tempo, pesaram nos negócios no mercado de câmbio preocupações com possíveis infecções do coronavírus na cúpula do governo brasileiro após o presidente Jair Bolsonaro ter contraído a doença. Com esse temor, o dólar chegou a operar em alta por alguns momentos e, na máxima, foi a R$ 5,3942 (+0,20%). No final dos negócios, o dólar à vista terminou em baixa de 0,63%, cotado em R$ 5,3496.
As vendas do varejo cresceram 13,9% em maio, acima do previsto e ajudaram a aumentar a visão nas mesas de operação de que o ciclo de cortes de juros pelo Banco Central pode ter chegado ao fim. Nos juros futuros, as apostas de interrupção dos cortes subiram para 75%.
O diretor e economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, avalia que os números do varejo vieram “sólidos” e são um indício de que o fundo do poço da atividade econômica foi em abril. Ele espera que a recuperação prossiga nos próximos meses, mas alerta que o quadro ainda de crescimento dos casos de covid no Brasil pode atrapalhar esta recuperação. Na avaliação de Ramos, a inflação comportada sugere que é mais provável um corte pequeno de juros na reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom).
O economista-chefe do BNP Paribas, Gustavo Arruda, destaca que o cenário do banco francês é de dólar enfraquecido na economia mundial, por conta da liquidez em excesso despejada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). “Essa liquidez tende a vazar, ir para outros ativos e mercados. A moeda americana deve ficar um pouco mais fraca”, disse ele em entrevista a jornalistas pela internet.
Com o dólar em queda mundial, o economista do BNP acredita que a moeda americana pode cair abaixo de R$ 5,00 aqui no final do ano, desde que a economia doméstica siga se recuperando. Para o economista do BNP, é importante que o governo retome a agenda de ajuste fiscal e reformas pró-crescimento, especialmente aquelas que deem segurança jurídica para os estrangeiros. A gestora americana Franklin Templeton avalia que o ambiente político no Brasil “melhorou significativamente”, com uma “aparente trégua” entre o governo, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Assim, a expectativa é que o Planalto possa tentar retomar a agenda de reformas.
Por Altamiro Silva Junior
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