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Vale não deve fazer grandes aquisições, diz Luciano Siani

Com um passado recheado de aquisições vistas hoje como equivocadas, a Vale não deve ser uma player de peso no mercado de fusões e aquisições, muito embora alguns ativos estejam em valores mais atrativos, o que faz crescer os rumores. O diretor-executivo de Finanças da Vale, Luciano Siani, disse que, mesmo que grandes aquisições estejam descartadas, até porque a administração da empresa tem na mesa outros assuntos prioritários, algumas pequenas compras, como a de uma pequena mina em Minas Gerais anunciada no início do ano, podem acontecer.

Outro setor que está no foco é o de energia renovável, visto que a mineradora tem a meta de se tornar autossuficiente. Essas aquisições, disse, têm um custo “marginal”.

Sem aquisições “de vulto” no horizonte, com um patamar de dívida líquida adequado e investimentos muito mais baixos do que os vistos no passado, a Vale não terá grandes destinos ao capital, o que aumenta a expectativa sobre seus dividendos, que estão com os pagamentos suspensos desde a tragédia de Brumadinho.

Com uma geração de caixa em temos normais ao ano entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões, a Vale deverá direcionar esse dinheiro para os acionistas. “Esse dinheiro não pode ter outro destino a não ser retornar aos acionistas. Portanto, se essa geração de caixa continuar forte, se os preços continuarem em um bom patamar, se a companhia conseguir retomar sua produção com segurança, a tendência, de fato, é que ela venha a remunerar o acionistas e nesse ambiente de taxas de juros muito baixas, alguns analistas veem uma oportunidade na companhia.”

Produção

Para conseguir cumprir sua meta de produção de minério de ferro para este ano, estimada para ficar entre 310 milhões a 330 milhões de toneladas, a Vale precisará de um ritmo de produção acelerado na segunda metade do ano, depois da frustração com a atividade nos primeiros meses do ano. Siani disse que no primeiro semestre os volumes estão abaixo do visto no mesmo intervalo do ano passado.

A Vale já reduziu uma vez sua meta de produção para este ano. Antes era de 340 milhões a 355 milhões de toneladas. No primeiro trimestre, antes do efeito da covid-19, a Vale foi afetada por fortes chuvas. Depois disso, com a pandemia, enfrentou alguns problemas em sua produção, tendo que manter fechadas algumas de suas unidades.

No primeiro trimestre do ano, a produção de minério de ferro da Vale somou 59,605 milhões de toneladas, queda de 18,2% em relação ao visto no mesmo período do ano passado, quando o volume tinha sido afetado pela tragédia de Brumadinho. Ante o quarto trimestre do ano, a queda foi de 23,9%.

Barragens

Segundo Siani, a Vale está trabalhando com afinco para provar a todo o público que suas barragens são seguras, um trabalho necessário após a tragédia em janeiro do ano passado em Brumadinho, quando quase 300 pessoas morreram. Ele disse que a empresa colocou como uma de suas “aspirações” transformar a Vale “em uma das companhias do setor de mineração mais seguras do mundo”, e que hoje a empresa está analisando toda a estrutura de suas barragens, algumas muito antigas, para ter o conhecimento claro da situação de cada uma.

“A Vale em 2018 estavam diante de um grande reconhecimento internacional, por mudanças da governança, qualidade de seu produto, com o minério de alta qualidade mostrando seu valor e o minério da Vale sendo negociado com um prêmio expressivo”, comentou Siani.

Agora, após Brumadinho, Siani disse que a Vale está muito mais sensível a questões sociais, por exemplo. “Queremos estabelecer um novo pacto com a sociedade brasileira, não só que a mineração é uma atividade essencial, mas que traz prosperidade”, afirmou.

Nesse sentido, a Vale colocou como prioridade questões relacionadas ao ESG – Ambiental, social e de governança. Assim, a Vale está comprometida com o Acordo de Paris, tendo como meta reduzir suas emissões entre 40% e 50% até 2030. Outra questão que a Vale diz olhar com atenção é a preservação de florestas.

Siani reconhece que investidores, desde o ano passado, ainda não estão confortáveis em investir na Vale, dada a percepção de que ainda existe de que a companhia precisa fazer mudanças. Por isso a companhia brasileira está sendo negociada hoje com múltiplos “muito aquém de sua capacidade de gerar riqueza”.

É por conta desses questionamentos, ainda, que a Vale é negociada com um desconto em relação às sua concorrentes. A distância de valor entre a Vale e a australiana Rio Tinto, por exemplo, que subiu para US$ 30 bilhões depois de Brumadinho, já está hoje em US$ 40 bilhões, com a percepção do mercado de que a Vale terá dificuldade de produzir, por conta da pandemia. A companhia, contudo, vai priorizar uma produção segura, disse.

“A Vale está sendo penalizada pela percepção de risco dos investidores e que as práticas precisam evoluir”, destacou Siani.

Por Fernanda Guimarães e Mariana Durão

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