A expectativa dos executivos das construtoras é que, uma vez passada a pandemia, a combinação dos juros da taxa Selic em 2,25% ao ano e percepção de escassez de novas unidades residenciais de alto padrão na capital paulista tenham efeito positivo na demanda por lançamentos voltados a este público.
Devido às condições de mercado adversas no ano e baixo retorno nas aplicações de baixo risco, espera-se que alguns agentes optem pelo investimento em aquisição de imóveis, como forma de obter uma valorização patrimonial mais “segura” e rentável.
As grandes construtoras de São Paulo com capital aberto na bolsa de valores (EZtec, Cyrela e Even) possuem grandes projetos de luxo com lançamento previsto ainda para 2020, com as expectativas ancoradas nos fatores comentados acima.
Para a média renda, espera-se que a retomada venha numa segunda onda, após as instituições financeiras terem reduzido as taxas de financiamento imobiliário e o consumidor passar a preferir a aquisição de um imóvel com custo financeiro mais baixo que morar de aluguel. Neste segmento, as companhias têm adotado um tom bem mais cauteloso quanto a novos lançamentos, apesar da já liberada reabertura dos estandes de vendas.
Apesar do desempenho ruim das ações do setor na bolsa após a Covid-19, as construtoras seguem sendo protagonistas na lista de IPOs de 2020. Enquanto Mitre e Moura Dubeux já realizaram as suas ofertas, a Riva 9 (spin-off da Direcional) deve finalizar o seu procedimento nas próximas semanas, enquanto a Pacaembu, One Inovattion, Alphaville Urbanismo, Canopus Holding e a Cury já estão com seus prospectos preliminares no portal oficial da CVM.
Ainda segundo informações de mercado, a Lavvi e a Plano&Plano, companhias que contam com a participação da Cyrela no seu quadro societário pretendem abrir capital em 2021. Com a fila grande de ofertas de empresas do setor, há o receio de que as condições de demanda sejam piores devido a entrada dos investidores nas ofertas anteriores.
A notícia é positiva para as ações do setor na bolsa, mas com pouco impacto nos preços das ações no curto prazo. Desta forma, analistas esperam que o desempenho das ações do setor fique em linha com o Ibovespa nesta sexta-feira (3) de menor liquidez no feriado devido ao feriado nos Estados Unidos, que fechou as bolsas americanas.
O setor de construção civil na bolsa brasileira registra fortes perdas no ano devido a pandemia. O índice IMOB, que contempla as ações do setor, recua 27,2%, desempenho inferior ao Ibovespa que tem perdas de 16,8% em 2020.
A redução da taxa básica de juros diminui o apetite de investidores pela Renda Fixa, que seguem à procura de aplicações que ofereçam maior potencial de retorno. Boa parte destes recursos têm migrado para a Renda Variável, mas os especialistas acreditam que uma parcela deve ser destinada à compra de imóveis.
Além da lógica de investimento, há um componente comportamental. As medidas de isolamento social resultaram num aumento da experiência das famílias dentro das suas residências, o que deve elevar o ímpeto dos consumidores a melhorarem o nível das suas moradias.
Os números do varejo de materiais de construção dão indícios dessa relação. Enquanto no varejo total de bens duráveis a queda acumulada no ano é de 36,4%, a queda no segmento de materiais de construção é de apenas 0,7%, com os números surpreendendo positivamente desde o final de abril. Os dados são do Boletim do Varejo, calculado pela Cielo.
Para a Cyrela as ofertas significam uma fonte de recursos sem necessidade de acessar o mercado de crédito/capitais, seja na forma de oferta própria de ações ou emissão de dívidas.
Nesse contexto o IPO da Cury é o mais importante, dado que tende a ser o mais próximo a ocorrer e a oferta mais representativa. A companhia detém 48,25% do capital da construtora.
O principal catalisador das ações das construtoras é o ritmo/formato da recuperação econômica e o risco de uma nova onda de contaminações no mundo, visto que as ações do setor possuem um caráter mais volátil devido a sua alta sensibilidade aos movimentos do mercado.
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