O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou que não vê contradição entre a comunicação da autoridade monetária e a projeção do BC de inflação aquém do centro da meta em 2021, em 3,2% contra 3,75% do alvo central, porque, em cenário alternativo, considerando o balanço de riscos, a inflação se aproxima da meta. No último Comitê de Política Monetária (Copom), o BC sinalizou que considerava adequado o nível de estímulo atual e que se houver novo ajuste será residual.
“Não há contradição entre essas duas coisas. Para entender porque não há contradição é preciso olhar o balanço de riscos, que deixa claro que há assimetria de riscos”, disse ele, em videoconferência organizada pelo Banco Safra, referindo-se à introdução de novo risco, de que as políticas de composição de renda e de estímulo creditício poderiam indicar um hiato da economia menor do que o BC tem no cenário base, ou queda da demanda menor do que no cenário base.
Pelo risco altista para inflação, o diretor também citou que o BC também monitora o risco fiscal.
Segundo Kanczuk, o cenário em que a demanda não cai tanto tem peso maior no balanço de riscos, gerando essa assimetria, citada no comunicado do Copom de junho. “Em cenário alternativo, inflação de 2021 se aproxima mais da meta. O BC tem cenário básico, mas há viés que aponta para inflação maior em 2021.”
Juro neutro
O diretor de Política Econômica do Banco Central explicou que o risco fiscal atual do País tem mais peso sobre o juro neutro considerado pela autoridade monetária do que outros fatores que reduziriam a taxa neutra, como, por exemplo, eventuais ganhos de produtividade. “Os fatores que abaixam o juro neutro acontecem, mas em magnitude menor do que o fator ele eleva o juro neutro, que é o risco fiscal. Há a percepção do mercado de que em algum ponto futuro possa haver problema fiscal, incorporando isso agora na atratividade dos títulos públicos”, afirmou.
Kanczuk reforçou que, apesar da elevação do juro neutro, a ociosidade da economia justificou a decisão do Copom em ter continuar o ciclo de cortes na Selic nas últimas reuniões. “O aumento do hiato e de ociosidade mais do que compensou esse aumento do juro neutro e que motivou a decisão de redução da Selic nas últimas três reuniões”, completou.
Câmbio
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que a autoridade monetária tem prestado bastante atenção na volatilidade do câmbio nas últimas semanas. “Independentemente de nível ou de ter uma tendência para cima ou para baixo, a volatilidade diária é bastante elevada, com um aumento grande de contratos pequenos. Estamos tentando identificar um pouco qual é a causa desse aumento de volatilidade, em que sentido ela é eficiente ou não”, afirmou, em videoconferência organizada pelo Banco Safra.
Para o diretor, é necessário entender primeiro o movimento, para pensar em alguma ação por parte do BC. “O câmbio no Brasil está um pouco mais volátil do que em outros países emergentes”, completou.
O diretor de Política Econômica do Banco Central reforçou que a intervenção do Banco Central no mercado secundário de títulos ocorrerá em caso de disfuncionalidade, como acontece no mercado de câmbio. Segundo ele, o BC está “totalmente pronto” para agir no mercado de títulos privados e de públicos. “Não há impedimento legal, podemos intervir em títulos daqui a 5 minutos se precisar.”
Mas ponderou que a intenção do BC não é fazer política monetária, e muito menos fiscal, mas atuar em momentos de disfuncionalidade no mercado.
Kanczuk citou que essa é uma preocupação no mundo todo, com o aumento da dívida pública devido às medidas de estímulo no contexto da crise do coronavírus. Conforme o diretor, com o aumento da quantidade de títulos públicos, o BC tem de estar pronto para agir, em conjunto com o Tesouro Nacional, em momentos de disfuncionalidade para tornar os preços adequados. “Em termos de raciocínio, vemos igual ao câmbio.”
Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
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