No primeiro pregão após a divulgação do resultado do primeiro trimestre de 2020, as ações do Instituto de Resseguros do Brasil (IRBR3) caíram 11,7 por cento para fechar a 11 reais, depois de três pregões consecutivos de alta. Os investidores compraram os papéis da empresa na expectativa de que os resultados – divulgados na madrugada da segunda-feira, 29 – trouxessem surpresas positivas.
No início deste ano, o IRB era considerado uma das ações queridinhas do mercado. Resseguros são apólices de seguros vendidas para as seguradoras, para atenuar seu risco de prejuízo. Fundado por Getulio Vargas em 1939, o Instituto de Resseguros do Brasil teve o monopólio dessa atividade no País de sua fundação até 2007, quando o monopólio caiu. Estatal e protegido da competição por décadas, o IRB era visto com maus olhos pelos investidores. No entanto, privatizado em 2013 e realizando sua abertura de capital em 2017, o Instituto construiu a imagem de uma empresa lucrativa e eficiente, capaz de competir em um mercado aberto à concorrência.
No entanto, no início deste ano, mais especificamente no dia 2 de fevereiro, uma carta da gestora carioca de recursos Squadra questionou as práticas contábeis do IRB. A resposta atrapalhada e pouco transparente da companhia provocou fortes quedas em suas ações no início daquele mês. Mais do que isso, a então diretoria do IRB publicou uma informação inverídica de que o megainvestidor americano Warren Buffett, conhecido pela excelência na escolha de ações, teria aproveitado a queda para investir no IRB.
A notícia animou os investidores, até ser desmentida formalmente pela Berkshire Hathaway, empresa de investimentos de Buffett. O vexame custou não apenas investigações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep), além de causar a saída das ações da companhia da carteira Dividendos, da Levante Ideias de Investimentos.
Ao divulgar os resultados, o IRB admitiu que “ex-diretores e outros colaboradores praticaram irregularidades que culminaram na modificação intencional e sistêmica de dados operacionais, principalmente, às reservas técnicas.” Em outras palavras, manipulação contábil. A companhia também apresentou uma nova versão de suas demonstrações financeiras de 2019.
Em relação ao primeiro trimestre, o lucro líquido caiu para 13,9 milhões de reais, queda de 92 por cento ante o mesmo período de 2019, já considerando os números revisados. A companhia também afirmou que estuda um aumento de capital para cobrir o rombo de 2,1 bilhões de reais nas reservas técnicas, rombo que está sendo investigado pela Susep. A última linha do balanço foi auxiliada por um ganho não recorrente de 110 milhões de reais, obtido com a venda de participações em dois shopping centers.
Ao comentar os resultados, Antonio Cassio dos Santos, que acumula os cargos de CEO e de presidente do Conselho de Administração, informou que o rombo nas reservas técnicas deveu-se não só aos ajustes referentes a este ano, mas também aos ajustes retroativos dos exercícios de 2018 e de 2019. Segundo ele, o IRB contratou os bancos de investimento Bradesco BBI e Itaú BBA para realizar uma capitalização da companhia de modo a recuperar as reservas técnicas.
Ao comentar os dados, Cassio confirmou a solidez das críticas da Squadra, e afirmou que a companhia, o conselho e os auditores também foram vítimas da fraude, ao lado dos acionistas. Ele informou que os resultados das investigações foram enviados ao Ministério Público e que o IRB vai buscar ressarcimento dos envolvidos.
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