Bom termômetro da piora de percepção de risco político, os juros longos subiram durante toda esta quinta-feira, 18. Primeiramente em reação à notícia, logo cedo, da prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e filho do presidente Jair Bolsonaro. E, no fim da sessão regular, ampliaram a trajetória ascendente até às máximas, com alta em torno de 20 pontos-base, com o anúncio do ministro da Educação, Abraham Weintraub, de que está deixando a pasta. Tudo isso mantidos os receios vindos do exterior com relação a uma segunda onda de contágio da Covid-19, num dia em que o dólar disparou de volta aos R$ 5,37.
Os juros curtos, por sua vez, caíram marginalmente, com ajustes ao comunicado do Copom ontem, que deixou a porta aberta, mas não muito, para o que seria um último e residual corte da Selic na próxima reunião. Com isso, a precificação na curva mostra um mercado dividido entre apostas de queda de 0,25 ponto porcentual e manutenção da Selic no Copom de agosto.
O dia de noticiário movimentado e de pós-Copom foi de forte volume de contratos, com a ponta curta em destaque. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou na mínima de 2,05%, de 2,089% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2022 subiu de 3,05% para 3,10% e a do DI para janeiro de 2025, de 5,662% para 5,86% (máxima). O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa na máxima, a 6,82%, de 6,622% ontem no ajuste.
A reação ao comunicado foi moderada, na medida em que as chances de mais uma redução da Selic já se traduziam parcialmente na curva nos últimos dias. Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o texto foi “cautelosamente dovish”. A curva projeta queda de 13 pontos-base da Selic em agosto, contra 7 pontos ontem, o que seria o “meio do caminho” entre um corte de 0,25 ponto e estabilidade.
Além disso, a repercussão também foi limitada pelo “evento Queiroz”. “Se não fosse pelas questões externas e políticas, o ajuste ao Copom teria sido maior”, afirmou Rostagno. Na medida em que o comunicado afirma que as medidas emergenciais para o combate à pandemia adicionam assimetria ao balanço de riscos, a prisão do ex-assessor é vista como mais um fator com potencial para atrasar a agenda de reformas e elevar o risco fiscal. “Contribuiu para elevar as tensões entre os Bolsonaros e o STF, mas ainda não o suficiente para causar uma ruptura institucional. O mercado não está precificando isso ainda”, disse Rostagno. Caso estivesse, a inclinação da curva de juros estaria muito maior e assim como o nível do dólar.
Porém, o fim da tarde ainda reservava a saída de Weintraub, que não chega a ser uma surpresa para o mercado, uma vez que o ministro estava muito enfraquecido. Mas, de todo modo, ao ocorrer no mesmo dia da prisão de Queiroz, reforça o sinal negativo ao mercado do ponto de vista da governabilidade.
Por Denise Abarca
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