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Covid-19 chegou à sua rua? Mapa interativo permite pesquisa em São Paulo

Pesquisadores do LabCidade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), criaram um mapa interativo para acompanhar casos de covid-19 por recorte de ruas, vilas ou comunidades da capital e de cidades vizinhas na Grande São Paulo. Por meio dele é possível observar o número de casos e de mortos. Segundo os cientistas, a ferramenta já permite chegar à seguinte conclusão: a simples comparação entre favelas e bairros centrais não serve para explicar o comportamento do coronavírus nem nortear as estratégias de combate à doença.

Para elaborar o mapa detalhado, o grupo cruzou dados de internações hospitalares por coronavírus e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com o CEP do paciente. Ao analisar a distribuição de casos a partir de escalas menores, os cientistas notaram, no entanto, que a presença do coronavírus pode ser heterogênea entre locais com características semelhantes ou até dentro de um mesmo bairro.

“‘Onde tem favela, tem covid’ é um justificativa que não serve. Há favelas com muitos casos, sim, mas há outros pontos favelizados sem alta concentração da doença. O mesmo acontece com bairros nobres”, afirma o pesquisador Aluízio Marino, do LabCidade. “Essa relação dual e fácil entre centro e periferia, na verdade, não está correta.”

A concentração de covid-19 é representada no mapa por pequenas ilhas de calor que viram linhas na medida em que o recorte vai sendo aproximado para vizinhanças. Em geral, as manchas aparecem espalhadas praticamente por todo a cidade, exceto na região mais extrema da zona sul, uma das mais pobres de São Paulo, onde há mais ocorrências de subnotificação do que de casos confirmados, pela ferramenta.

Segundo Marino, a vantagem do georreferenciamento é permitir uma “leitura mais complexa” da pandemia, possibilitando assim desenvolver ações específicas para cada lugar. Caso contrário, a estratégia de combate à doença corre o risco de falhar, afirma o pesquisador. “Foi o que aconteceu com o feriadão prolongado ou o mega rodízio de veículos”, avalia. “A cidade de São Paulo tem uma característica muito diversa, há várias cidades dentro de uma, então precisa haver estratégias territorializadas.”

O pesquisador usa, ainda, o exemplo da Brasilândia, periferia na zona norte. “Os boletins epidemiológicos da Prefeitura organizam as informações por distrito administrativo. Muitas vezes, esse recorte considera territórios grandes demais”, diz. “Desde o início da pandemia, o bairro é apontado como de alta concentração, mas lá a população equivale à de uma cidade de médio porte. Sem a escala de ruas, não diz muita coisa.”

Entretanto, cientistas do LabCidade alertam que a ferramenta não oferece o cenário completo da pandemia em São Paulo e também não explica quais fatores influenciam na difusão da doença, por enquanto. “Esses dados não são todos, são os de hospitalização. Aqueles que se trataram em casa ou mesmo os assintomáticos não vão aparecer no mapa”, diz Marino.

Na próxima etapa do projeto, o grupo pretende testar hipóteses e investigar o conjunto de elementos que leva determinado local a ter mais ou menos casos de covid-19 – como a circulação de ônibus ou presença de equipamentos de saúde e centros comerciais. “Constatamos a presença em diferentes territórios, agora vamos cruzar com outros elementos, não só a densidade populacional ou precariedade do território.”

Futuro incerto

Os pesquisadores, no entanto, temem pelo futuro do projeto. Em nota divulgada na terça-feira, 9, o LabCidade denunciou que o portal Datasus, do Ministério da Saúde, deixou de divulgar a variável “CEP” e até retirou a informação de planilhas anteriores no banco de dados abertos. Sem ela, não é possível atualizar o mapeamento.

“Essa alteração está conectada a uma estratégia mais ampla de diminuir a transparência dos dados sobre a covid-19 no Brasil”, diz o comunicado do grupo. “Todas essas alterações apontam, por um lado, a tentativa de esconder as informações e dificultar o acompanhamento por parte de ativistas, gestores e pesquisadores, por outro, uma estratégia de confundir a população e minimizar a gravidade da pandemia.”

Questionado, o Ministério da Saúde afirmou que a plataforma OpenDataSUS oferece “fácil acesso aos dados e microdados registrados em notificações e informações sem prejuízo quanto a preservação dos dados pessoais dos pacientes” e que a variável “CEP” é “caracterizada como sensível já que facilita a identificação do indivíduo”. “Por isso, respeitando a Lei Geral de Proteção aos dados – LGPD (Lei nº 13.709/2018), foi retirada. Esta ação contribui para garantir e preservar a privacidade do cidadão.”

Em nota, o órgão ainda explicou que a plataforma ainda está sendo aprimorada. “A pasta vai trabalhar nesta solução nos próximos dias, considerando a importância do trabalho realizado pela comunidade acadêmica e científica.”

Um exemplo do mapa interativo pode ser conferido no seguinte endereço na internet: (https://labcidadefau.carto.com/builder/550ac007-b4c9-42ab-9582-29d16ab4e7ee/embed?state=%7B%22map%22%3A%7B%22ne%22%3A%5B-23.677510116481624%2C-46.857360675930984%5D%2C%22sw%22%3A%5B-23.490767702881982%2C-46.468547657132156%5D%2C%22center%22%3A%5B-23.584172123394485%2C-46.66295416653157%5D%2C%22zoom%22%3A13%7D%7D

Por Felipe Resk

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