O Estado de São Paulo vai estender a quarentena depois do dia 31, mas agora em um modelo com regras diferentes para capital e região metropolitana, litoral e interior, segundo o governador João Doria (PSDB). A reabertura gradual deve começar pelo oeste paulista, disse ontem Henrique Meirelles, secretário estadual da Fazenda e do Planejamento. Segundo ele, a retomada não deve ser anunciada na Grande São Paulo por enquanto, e haverá protocolos de reabertura para cada setor econômico.
O novo modelo, chamado pelo governo de “quarentena inteligente”, deve ser anunciado a amanhã. “Ela (a nova quarentena) vai levar em conta toda a regionalização do Estado de São Paulo, o interior, a capital, a região metropolitana, o litoral de São Paulo. A decisão não será homogênea”, afirmou o governador à Globonews. “(A quarentena até agora) foi homogênea porque precisava ser”, disse. “Áreas e regiões onde poderemos ter um olhar que defina pela quarentena inteligente, a flexibilização cuidadosa e em etapas, isso será levado em consideração”, afirmou. “Onde isso não for possível, porque os índices e os riscos indicam que não deve, não haverá.”
Em vídeo transmitido nas redes sociais pela Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil, Meirelles disse que, na região oeste do Estado, a reabertura deve ser “em cidades com menor densidade e maior capacidade de atendimento hospitalar”. Já na região metropolitana, “o mais provável é uma restrição um pouco maior”.
O Estado, líder em casos da covid-19 no País, tinha até ontem 6.220 mortes pela doença. No domingo, a taxa de isolamento social foi de 55% no Estado e 57% na capital. Nas últimas semanas, o prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB), apostou em um rodízio ampliado de veículos, depois suspenso, e na antecipação de feriados como forma de aumentar a quantidade de pessoas em casa – a meta era atingir ao menos 55% -, como forma de evitar mais restrições.
A taxa de ocupação das UTIs na Grande São Paulo, que no domingo havia ultrapassado 90%, caiu para 88%, por causa da abertura de mais leitos dotados de equipamentos de tratamento intensivo nas cidades da região. No Estado como um todo, a ocupação das UTIs é de 73,8%.
Plano
O governo tem um grupo de trabalho para buscar formas que permitam reabrir algumas atividades econômicas em parte do Estado. Esse comitê, segundo Doria, é submetido ao Centro de Contingência do Coronavírus. O órgão, que reúne 15 profissionais de saúde, a maior parte infectologistas, já determinou o adiamento de propostas de abertura comercial no Estado pelo risco de colapso no sistema de saúde.
O grupo econômico, liderado pela economista Ana Carla Abrão, já apresentou ao governo um plano que vê oito atividades econômicas como prioritários, em especial por serem as áreas mais atingidas. Entre elas, estão prestadores de serviço, corretores de imóveis e vendedores ambulantes. O grupo também tem mapeado as regiões do Estado que podem passar por algum tipo de flexibilização, e elaborou em conjunto com a equipe de saúde protocolos que deverão ser adotados para uma retomada segura.
O grupo econômico é uma das respostas que a gestão Doria deu às pressões, especialmente de prefeitos do interior. Eles cobram a abertura, uma vez que suas cidades não vinham registrando, ao menos há até duas semanas, número de casos que pudesse sobrecarregar os sistemas de saúde. Outra resposta do governo foi criar um Comitê Municipalista, capitaneado pelo secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, cuja missão tem sido convencer as lideranças municipais sobre a necessidade de se isolar agora para reduzir o tempo de quarentena depois.
Por outro lado, a atenção do Centro de Contingência tem se voltado ao interior desde a semana passada, graças a uma aceleração da difusão da doença em ritmo maior do que o da capital. Na quarta passada, o próprio Vinholi fez apresentação pública de casos, com dado da 1ª quinzena de abril, comparando as diversas regiões administrativas do Estado, para mostrar aumentos superiores a 300% no total de notificações no interior, ante crescimentos de 100% na capital no igual período. Há casos de covid em 510 dos 645 municípios do Estado.
A pressão pela abertura no interior é diferente da pressão vinda da capital, feita pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), aliado de Doria. Após tentar bloquear o trânsito nas principais vias da cidade, e de tentar implementar um rodízio que proibia o tráfego diário de metade da frota, duas medidas que não reduziram o isolamento social e trouxeram críticas, a equipe de Covas começou a defender o lockdown, como forma de reduzir o surgimento de casos novos e dar fôlego ao sistema de saúde.
“Se fosse competência do prefeito Bruno Covas pronunciar o lockdown, ele já o teria feito”, disse a vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), da base de Covas, na sessão da Câmara Municipal que votou o projeto de lei que autorizava a antecipação dos feriados. Covas disse que não tinha condição de fazer sozinho o lockdown porque a cidade tem divisas com outras cidades em cerca de 1,7 mil pontos, e seria impossível adotar essa ação apenas na capital.
Doria, à Globonews, descartou lockdown. Segundo ele, o protocolo para implementar a norma existe, mas por ora não há recomendação da equipe técnica para adotá-lo. Doria apoiou o plano de feriados de Covas e contribuiu antecipando o feriado estadual de 9 de Julho para segunda. Pelo Twitter, ontem, o governador parabenizou a população pelo aumento da taxa de isolamento no domingo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Bruno Ribeiro, André Ítalo Rocha e Eduardo Laguna, especial para o Estadão
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