A cinco meses das eleições municipais, três incertezas rondam as campanhas para prefeito. Ainda há dúvidas se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vai manter a data da votação para 4 de outubro, se o Fundo Eleitoral será ou não destinado para o combate à pandemia do novo coronavírus e sobre como será a campanha em meio às regras de isolamento social. Políticos e profissionais que trabalham com partidos políticos avaliam que terão que lidar com uma campanha mais curta e sem contato físico, além de mais dependente da TV.
As redes sociais não devem ter o mesmo papel que nas eleições de 2018, segundo o pesquisador Renato Meirelles, fundador do Data Popular e hoje dono do Instituto Lokomotiva. Ele observa que oito em cada dez brasileiros afirmam que sua franquia de dados no celular não dura o mês inteiro.
Meirelles aponta para o aumento do uso de TV e rádio como ferramenta de informação. “A internet serve para blindar o eleitorado fixo, ou seja, o piso que ele tem”, afirmou o pesquisador. “A TV vai ter um papel importante para desarmar as fake news.” Outros especialistas ouvidos pelo Estadão manifestaram opiniões semelhantes.
Com a previsão de uma campanha relâmpago e sem os tradicionais eventos eleitorais, os pré-candidatos com maior tempo de TV deverão ter vantagem. Os partidos têm evitado fechar contratos, já que não sabem se o dinheiro virá. Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, é um dos poucos que já contrataram um advogado eleitoral, e os trabalhos seguem em marcha lenta, comparado que o que seria esperado sem a covid-19.
Financiamento
Publicitários ouvidos pela reportagem contam que, em condições normais, este seria o momento de realizar pesquisas, fazer eventos para divulgar apoios partidários e montar as equipes de comunicação e marketing. “As campanhas já saberiam que vão tocar”, disse o publicitário Nelson Biondi. Responsável por diversas campanhas tucanas e do ex-governador Paulo Maluf, ele decidiu ficar de fora neste ano. “Esse mercado já era ruim e ficou pior.”
Uma das principais incertezas é em relação ao dinheiro. Enquanto as parcelas do Fundo Partidário continuam sendo transferidas às legendas pelo TSE, o Fundo Eleitoral é uma bolada única, com liberação programada para meados de junho – justamente a época que epidemiologistas apontam como o possível pico da pandemia no Brasil.
No entorno de Bruno Covas já se discutem formas de realizar a convenção de julho de forma virtual. O desafío é encontrar uma solução técnica que respeite o voto secreto e comporte mil delegados em rede. “Nossa preocupação e empenho é para que tudo possa ser feito pela internet”, disse César Gontijo, que integra a executiva nacional do PSDB.
A equipe do prefeito está focada em manter o calendário eleitoral. Já a maioria dos adversários ouvidos pelo Estadão não se opõe à adiar o pleito, desde que ainda ocorra neste ano e não acarrete em prorrogação dos mandatos de quem é prefeito ou vereador atualmente.
Essa possibilidade é admitida pelo ex-governador Márcio França (PSB), pelos deputados federais Joice Hasselmann (PSL) e Orlando Silva (PC do B), pelo deputado estadual Arthur do Val (conhecido como Mamãe Falei, do Patriotas) e pelo ex-ministro Andrea Matarazzo (PSD), todos pré-candidatos. O PSOL, que vai lançar chapa com Guilherme Boulos e Luiza Erundina, também informou que não é contra o adiamento nesses termos.
Já o pré-candidato do Novo, Filipe Sabará, disse ainda não ver necessidade de falar em adiamento, mas acrescentou que avaliará a questão nas próximas semanas.
O PT é contra discutir o adiamento, ao menos neste momento. A reportagem entrou em contato com a pré-candidata Marta Suplicy (SD), mas não obteve resposta.
“As eleições podem ser adiadas se o clima estiver como agora. Seria impossível produzir uma eleição tranquila com essa pandemia. Se for em dezembro, a gente ganha dois meses para evitar problema”, ponderou França.
“A decisão de prorrogar ou não as eleições é como a decisão pelo isolamento social, tem que ser definida por médicos”, defendeu Andrea Matarazzo. “Praticamente suspendi a pré-campanha e coloquei foco no combate à pandemia”, afirmou o pré-candidato Orlando Silva, que é deputado federal e um dos autores do projeto de lei da renda mínima emergencial.
“Atrasa a contratação de pré-campanha já que, normalmente, você passaria a contratar em junho, para preparar a coleta de dados”, afirmou França, sobre a indefinição em relação ao Fundo Eleitoral.
“Todos os esforços têm que ser direcionados ao combate à covid. Mas há muito barulho em torno do Fundo, cujo valor não significaria grandes resultados (para o lidar com a pandemia)”, argumentou Joice Hasselmann. “O Fundo Eleitoral não (ajudaria) e ainda deixaria a questão de como a eleição será custeada, porque o custo da democracia existe”, concluiu.
Adiamento
O PT informou que não considera adequado debater adiamento das eleições municipais. De acordo com o presidente do diretório municipal, Laércio Ribeiro, muitos dirigentes do partido avaliam que, como ainda faltam meses até a hora de a população de dirigir às urnas, não é o caso de se falar em postergar as disputas. Neste sábado, 16, a legenda escolheu Jilmar Tatto como seu pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Paula Reverbel e Pedro Venceslau
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