O Brasil, antes interessado em uma relação fluida com a comunidade internacional, está “rompendo consensos” e “criando pequenas alianças sectárias”, através de uma política externa “lunática” e “injustificável à luz dos nossos interesses e valores”, afirmou nesta quinta-feira, 14, o ex-secretário geral do Itamaraty e embaixador Marcos Azambuja.
Ao lado do escritor e jornalista Fernando Gabeira, Azambuja participou do debate Esperando Godot: A tempestade perfeita, organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais e transmitido ao vivo na noite de quinta.
“Eu vivi uma vida inteira cultivando uma linguagem diplomática, que é suave, é precisa e tende a reduzir os problemas a um nível que permita negociação”, disse Azambuja. “Sobre a diplomacia atual brasileira, eu não consigo ter essa sobriedade. Nós estamos tendo uma política externa simplesmente lunática, que causa danos a nós mesmos, que é injustificável à luz dos nossos interesses e valores”, afirmou.
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o Ministério das Relações Exteriores se envolveu em uma série de incidentes diplomáticos, a maioria deles relacionado à China, maior parceiro comercial do País.
Em meados de março, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, usou as redes sociais para exigir retratação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que havia postado uma mensagem na qual culpava o país pela crise. Em resposta, o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu uma retratação do embaixador.
No fim de abril, Araújo assinou em seu site pessoal um artigo em que denunciava “o jogo comunista-globalista de apropriação da pandemia para subverter completamente a democracia liberal e a economia de mercado”, com críticas ao Partido Comunista Chinês e uso do termo “comunavírus”.
“A política brasileira, no momento, está sendo desastrosa para o interesse brasileiro e será,principalmente agora, quando precisaremos de auxílio de todo o tipo – tecnologia, equipamentos – sobretudo da China”, afirmou Azambuja.
Fernando Gabeira levantou outro incidente envolvendo o chanceler brasileiro, também relacionado ao seu site pessoal. Ainda no fim de abril, lideranças judaicas exigiram que Araújo se desculpasse por uma analogia entre o isolamento social e os campos de concentração nazistas. “Cada vez que ele (Araújo) se manifesta, cria um impasse até com aliados”, disse.
Para o escritor, a diplomacia brasileira sempre se pautou pela capacidade de resolver conflitos entre vizinhos. “Nós éramos pacificadores, agora somos os belicosos”, afirmou. “Essa questão só será superada quando conseguirmos restituir o tecido democrático brasileiro e restabelecer os elementos do nosso soft power”, finalizou.
Por Thaís Ferraz
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