O Brasil não deve ter uma melhora em sua nota de classificação de risco dada pelas agências internacionais nem em 2021 e a classificação do País pode até cair, com a deterioração econômica e os ruídos de uma crise política, que podem afetar a capacidade do governo em ajustar as contas públicas e implementar a agenda de reformas depois da pandemia da covid-19.
O Brasil conquistou o grau de investimento dado pelas agências Fitch, Standard & Poor’s (S&P) e Moody’s pela primeira vez em 2008. Mas perdeu o selo de bom pagador sete anos depois, com a crise política e o início da recessão. No começo deste ano, parecia que o rating do Brasil iria subir, ainda que abaixo do grau de investimento.
Com a crise causada pela covid-19, que chegou ao País enquanto a economia tentava superar o baixo crescimento e a crise política entre o governo do presidente Jair Bolsonaro e os demais Poderes escalava, o cenário mudou radicalmente.
Na última terça-feira, a agência Fitch revisou para “negativa” a perspectiva para a nota de crédito soberano do País, pela “deterioração das perspectivas econômicas e fiscais e os riscos negativos de renovada incerteza política, incluindo tensões entre o Executivo e o Congresso, e incerteza sobre a duração e a intensidade da pandemia”, aponta a nota da agência.
A Fitch revisou a perspectiva para a nota e manteve a classificação do Brasil em “BB-“. A S&P também atribui ao País nota “BB-“, e a Moody’s o classifica em “Ba2” – todas as notas abaixo do grau de investimento.
No mês passado, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) bateu em 210,5 pontos, o nível mais alto da série histórica, e já tinha subido 95 pontos desde fevereiro. Antes disso, o ponto mais alto havia sido atingido justamente quando a Standard and Poor’s retirou o grau de investimento do Brasil, em setembro de 2015.
Incertezas
Segundo a analista de ratings soberanos para a S&P Livia Honsel, a pandemia tornou mais difícil a aprovação de reformas. “Em dezembro, havia a probabilidade de melhora na nota do Brasil, com base em uma redução do déficit. Agora, nesse contexto tão complexo, é difícil que o rating do Brasil melhore no ano que vem.”
Ela lembra, que apesar de as agências não opinarem sobre a forma como cada governo lida com a crise do novo coronavírus, a avaliação de risco do Brasil inclui questões políticas, como as dificuldades para o País avançar nas reformas, causadas por divisões no Congresso ou oposição entre os Poderes.
“Como em outros países, os impactos da pandemia na economia e na performance fiscal do Brasil serão graves”, diz Samar Maziad, vice-presidente e principal analista para o Brasil da Moody’s. “Esperamos uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de mais de 5% este ano. E tudo vai depender do quanto o governo será capaz de voltar ao caminho da consolidação fiscal no ano que vem.”
Segundo Maziad, um ponto importante para definir a imagem que o Brasil terá perante os investidores internacionais será como o País vai conseguir aplicar os recursos usados para conter os efeitos da crise. “Ainda vai ser preciso avaliar a efetividade das medidas que estão sendo aplicadas agora”, diz.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Douglas Gavras
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