O sistema de ensino ligado ao Exército vive duas realidades distintas. Enquanto as escolas propriamente militares permanecem abertas, os colégios militares estão todos mantendo suas atividades por meio do ensino a distância. Ao todo, 13 mil alunos dos 14 colégios militares (ensinos fundamental 2 e médio) fizeram no dia 28 a primeira avaliação virtual centralizada desde a criação do Sistema Colégio Militar do Brasil, há 130 anos, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com o Exército, com a epidemia da covid-19 todos os alunos acompanharam “as orientações de saúde de suas unidades da Federação e mantêm-se em ambiente virtual de aprendizagem”. E isso mesmo com a pretensão do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que as aulas presenciais fossem retomadas a partir do dia 27 de abril.
No dia 20, ele se reuniu com o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), para obter dele a garantia da reabertura das escolas. “Esse talvez seja o primeiro gesto para nós voltarmos à normalidade no tocante ao estudo aqui no Brasil”, disse então. Não foi. Ibaneis não fez o que o presidente pretendia e até agora as aulas permanecem suspensas na unidade de Brasília do sistema.
Por enquanto, as Forças Armadas contam sete militares mortos na “guerra ao coronavírus” e 1.813 infectados pelo Sars-Cov-2 – 689 recuperados. O Ministério da Defesa não informa onde e em quais Forças os casos mais ocorreram. A reportagem apurou, no entanto, que o vírus chegou até a Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, no Rio. Ali, a doença atingiu 1,1% dos 1.750 cadetes (19) – na guarnição da cidade, que conta com 4,8 mil militares, o total de atingidos pelo coronavírus é de 24 (0,5%).
Tanto a academia, responsável por formar os oficiais do Exército, como a Escola de Sargentos das Armas não suspenderam suas atividades durante a epidemia. A Diretoria de Ensino e Cultura do Exército (Decex) decidiu manter as escolas abertas, pois seus alunos estudam em regime de internato. No entender da diretoria, eles estariam mais bem protegidos nas próprias escolas do que se tivessem sido enviados de volta para suas casas.
Em texto publicado pelo Exército, o general Tomás Miguel Miné Ribeiro de Paiva, diretor do Decex, afirmou que as medidas sanitárias planejadas pelo Centro de Coordenação de Operações de Saúde estão sendo cumpridas nas escolas, “incluindo a suspensão de licenças de fim de semana”. “Tudo foi adaptado para evitar aglomerações e proporcionar segurança aos alunos-cadetes, professores, instrutores e ao pessoal de apoio. Há ainda uma prontidão permanente, pois esses militares constituem importante reserva de pessoal para emprego pelo Comando do Exército a qualquer momento.”
Exames e testes são feitos constantemente nos integrantes das escolas. O texto publicado pelo general foi uma resposta à preocupação de familiares dos alunos. Atualmente há cerca de 4,2 mil militares sendo formados nas escolas da Força. Também foram mantidas as aulas na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e na Escola de Comando e Estado-Maior (Eceme), do Exército. De acordo ainda com o general, as escolas registraram um “pequeno número” de casos. Nenhum deles foi classificado como grave pelo Exército. “O que comprova que a gestão, até o presente momento, tem sido séria e exitosa.”
Modelo
Em Resende, por exemplo, a maioria dos registros foi de casos de pacientes assintomáticos ou com sintomas leves da doença. Na academia foram adotadas, entre outras medidas, o rodízio de pessoal, o aumento da distância entre os alunos nos refeitórios, a diminuição de estudantes por sala de aula, além do afastamento dos profissionais com mais de 60 anos e com problemas de saúde. Por fim, houve o cancelamento de formaturas e de atividades físicas em conjunto.
Os militares avaliam que as medidas do Exército para manter suas escolas e organizações militares em funcionamento podem servir de molde para um processo de retomada de atividades em outras áreas. Medidas semelhantes às das escolas foram adotadas, por exemplo, no quartel-general do Exército e nos comandos de área.
O Comando Militar do Sudeste registrava até a semana passada apenas 24 casos de contágio entre os 25 mil militares de seu efetivo – dez deles já haviam recebido alta. O CMSE abrange o Estado de São Paulo, o mais atingido pela pandemia até agora. De acordo com militares ouvidos pelo Estado, por enquanto, a covid-19 não teve impacto nas atividades operacionais do comando. As ações das Forças Armadas contra a covid-19 foram deflagradas no dia 20 de março e contam hoje com a participação de cerca de 29 mil militares. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Marcelo Godoy
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