Uma bebê de dois meses morreu, em Ipiaú, sudoeste da Bahia, vítima do novo coronavírus. A informação é da Secretaria Municipal de Saúde. A morte aconteceu na manhã da última quinta-feira, 30, mas o resultado positivo para a doença só foi comunicado à família na segunda, 4. Os parentes mais próximos negam que a menina tenha morrido de covid-19, embora quatro deles tenham testado positivo para a doença.
O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso ao atestado de óbito da bebê, que aponta anemia grave, toxoplasmose congênita e choque hemorrágico como as causas da morte. A Secretaria de Saúde de Ipiaú informou, em nota, que a menina foi testada depois da morte, o que explicaria a demora para o resultado. “Isso não entra na nossa cabeça. O atestado de óbito fala uma coisa e eles (governo) falam outra completamente diferente”, disse a avó, que pediu para não ser identificada. A família diz não ter tido acesso à contraprova do teste.
A bebê morreu menos de um dia depois de dar entrada no Hospital Regional Prado Valadares, em Jequié. A pediatra recomendou, depois de analisar resultado de ultrassons e raio-X durante um exame de rotina, na quarta, 29, que ela fosse levada à unidade gerida pelo governo do Estado, que fica a uma hora de distância de Ipiaú.
Ela tinha histórico de toxoplasmose congênita – infecção transmitida pela mãe e associada a contato com fezes de gato e outros felinos, a partir da ingestão de água e alimentos, por exemplo – e anemia. Quando chegou ao hospital, a bebê precisou de uma bolsa de sangue. “Sabíamos que ela tinha esses problemas, que o crânio dela não estava se desenvolvendo como deveria, mas ninguém falou nada de coronavírus”, relatou a avó.
Na noite da internação, ela passou por um teste rápido para identificar se estava contaminada pelo vírus. O resultado da primeira testagem, disse a avó, que acompanhou a neta e a filha no hospital, deu negativo. Na manhã seguinte, a bebê sofreu uma parada cardiorrespiratória – que também é associada a complicações provocadas pelo vírus – e não resistiu.
O jornal O Estado de S. Paulo perguntou à Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) por qual motivo a bebê passou por uma nova testagem, mas a pasta informou que não detalha “informações de pacientes internados, mesmo aqueles que já receberam alta ou foram ao óbito”.
A avó não soube informar se alguma mostra respiratória da bebê foi recolhida e enviada para o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Salvador, onde são realizadas as análises. “Se fizeram, não nos disseram, o que sabemos é que o primeiro deu negativo”, ressaltou. O jornal O Estado de S. Paulo tentou contato com o Hospital Regional Prado Valadares, mas não obteve retorno.
Os pais, avó e avô, irmã, primo e dois tios da bebê morta moram na mesma casa, numa região afastada da cidade. A residência tem apenas três cômodos, cada um habitado por um núcleo familiar. “Está todo mundo junto, por que só deu positivo de quatro pessoas e das outras não?”, questionou a matriarca, uma das diagnosticadas com coronavírus na última segunda, junto aos pais da bebê e um dos filhos. Todos passaram por testes rápidos, depois da confirmação da doença da caçula, mas dizem não ter sintomas e afirmam que cumprem o isolamento.
Ipiaú tem pelo menos 53 casos confirmados do novo coronavírus e duas mortes.
Segundo bebê morto por coronavírus
Em menos de uma semana, foi o segundo bebê morto por covid-19 na Bahia. Na madrugada do último domingo, 3, um bebê de quatro meses, que estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital privado da capital baiana, também morreu vítima da doença.
Os dados mais atualizados da Sesab mostram 3.975 casos notificados de covid-19 e 144 óbitos no Estado. A prevalência da doença em menores de um ano, ainda de acordo com a secretaria, é de 0,46% – os mais afetados são adultos com idade entre 30 a 39 anos (27%).
Como no atestado de óbito da bebê ipiauense não constava coronavírus, o enterro aconteceu sem as restrições sanitárias necessárias – como o lacramento do caixão, para evitar propagação do vírus. Não houve velório para evitar aglomeração. Somente os avós maternos, os pais, três tios e uma vizinha da família participaram do sepultamento, no fim da tarde, num cemitério da cidade.
Por Fernanda Santana, especial para a AE
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