Um paciente dá entrada no pronto-socorro sentindo muita falta de ar. Com a escalada do novo coronavírus, os médicos começam a investigação de imediato. Correm para medir taxa de oxigênio no sangue, avaliar lesões pulmonares, perguntar o histórico de doenças. Nos quadros mais severos, não dá tempo de tentar outro método: a pessoa acaba entubada e, às pressas, vai parar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O roteiro é comum entre pacientes da covid-19 que conseguem vagas em UTIs, segundo relatam médicos intensivistas e gestores de hospitais ouvidos pelo Estado. Para explicar o atendimento e o dia a dia nas unidades intensivas, a reportagem conversou com profissionais do Emílio Ribas e dos Hospitais Sírio Libanês e Israelita Albert Einstein, referências da rede pública e privada de São Paulo.
O PS
O pronto-socorro é a principal porta de entrada dos pacientes graves. “A maioria chega por demanda espontânea, buscando atendimento após ter principalmente sintoma de insuficiência respiratória”, descreve Jaques Sztajnbok, chefe da UTI do Emílio Ribas. Cansaço, congestão nasal, coriza, dor de cabeça, febre, diarreia também podem aparecer. A outra maneira de conseguir vaga é se alguma unidade médica pedir que o paciente seja transferido por não dispor de estrutura.
Hospitais privados também demonstram preocupação com o volume de casos, mas até o momento não há relatos de internação negada. Ali, pacientes também chegam às UTIs por recomendação médica após consultas presenciais, por domicílio ou até por telemedicina, conforme relata o intensivista e clínico-geral do Einstein Leonardo Rolim. “É uma nova porta de entrada. Em um dia, fizemos mil atendimentos por telemedicina: se houver necessidade, o médico já encaminha.”
A internação
Médicos afirmam que a decisão de internar depende de uma soma de fatores, como a instabilidade da pressão arterial ou retenção de gás carbônico. Para a análise, um dos principais exames é a oximetria, que mede a saturação de oxigênio no sangue, cujos valores em uma pessoa saudável ficam acima de 95%. “Um porcentual abaixo de 90% é sinal grave”, diz Sztajnbok. “Um paciente que chega com falta de ar importante, com valores muito baixos, vai direto para a sala de emergência. Às vezes já é entubado.”
Também é praxe realizar tomografia de tórax, para detectar lesões características do novo vírus. “É um padrão que aparece por exemplo em pneumonias bacterianas, mas em várias áreas dos dois pulmões”, diz o diretor de governança clínica do Sírio Libanês, Fernando Ganem. Em cenário de piora, a equipe médica aplica sedativos e relaxante muscular, para evitar tosses involuntárias que despejam grandes cargas de Sars-Cov-2, o vírus causador da covid-19. Em seguida, se insere um tubo pela boca ou narina até a traqueia que, acoplado a um ventilador mecânico (o respirador), compensa a falta de atividade dos pulmões.
A UTI
Pacientes na UTI são monitorados 24 horas por dia e as equipes médicas ficam prontas para intervir, como colocar um respirador. No Einstein, cerca de 50% dos internados em UTI precisam do respirador, segundo Rolim. “Temos pacientes que saíram da internação em terapia intensiva depois de três ou quatro dias. Entre os entubados, a média é de dez dias.”
O tratamento
Integrantes de rede de pesquisa para avaliar segurança e eficácia de drogas contra o vírus, Sírio e Einstein têm ministrado hidroxicloroquina para pacientes em casos graves, como recomendou o Ministério da Saúde, e a critério do médico.
No Einstein também são usados azitromicina, antibiótico contra infecções respiratórias, e dexametasona. “O pesquisador avisa sobre benefícios e riscos. Se o paciente não for capaz de consentir, um representante legal assina o termo”, diz Rolim. O Emílio Ribas também testa o remdesivir, antiviral usado contra o ebola. Como não há tratamento comprovado para covid-19, várias drogas são testadas.
Por Felipe Resk
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