Após ganho de 11,71% na semana passada, que havia sido o maior desde março de 2016, o Ibovespa teve comportamento mais tímido nesta semana, que lhe assegurou avanço de 1,68% no período, dividido entre três sessões positivas e duas negativas. Nesta sexta-feira, o principal índice da B3 fechou em alta de 1,51%, aos 78.990,29 pontos, no padrão de correção lateralizada observado recentemente – entendido como ajuste diário de até 2 mil pontos, para baixo ou para cima, em relação ao encerramento anterior. Refletindo a acomodação, o índice se manteve dentro de faixa de variação mais estreita, oscilando entre mínima de 77.754,45 e máxima de 79.846,43 pontos, uma diferença de pouco mais de 2 mil pontos.
Apesar da leve progressão no período, o Ibovespa conseguiu encadear a segunda semana de ganhos – na semana até 3 de abril, havia cedido 5,30%, após um avanço de 9,48% na semana até 27 de março, que também havia sido o melhor desempenho desde março de 2016. Analistas chamam atenção para alguns pontos recorrentes: a dificuldade de o índice se manter além dos 80 mil pontos; a moderação da volatilidade após o que se viu em fevereiro e março; a correlação com Nova York e ativos como o petróleo; e a atenção dividida entre o noticiário médico, os dados econômicos globais e os ruídos políticos que chegam de Brasília – uma combinação que limita o potencial de recuperação das ações, no momento.
Assim, entre idas e vindas bem mais moderadas dos que as observadas nos dois meses anteriores, o Ibovespa acumula até aqui ganho de 8,18% em abril, sem conseguir se aproximar muito do nível de fechamento de 13 de março, quando foi aos 82.677,91 pontos, tendo saído de 72.582,53 pontos no encerramento do dia anterior – uma variação de mais de 10 mil pontos de uma sessão para outra, refletindo a potente volatilidade que prevalecia então. Nesta sexta-feira, o giro financeiro foi de R$ 19,8 bilhões, espelhando o padrão mais acomodado observado ao longo de abril. No ano, o Ibovespa cede agora 31,70%.
O último fechamento abaixo dos 70 mil pontos foi em 3 de abril, quando o índice encerrou aos 69.537,56 pontos. A partir da sessão seguinte, no dia 6, considerando os níveis de encerramento, o Ibovespa se manteve acima de 74 mil, com a maior parte dos fechamentos nas casas de 77 e 78 mil pontos, tendo chegado a 79,9 mil pontos no melhor do mês em curso, dia 14 – no intradia, foi a 81.667,81 pontos na mesma data.
Nesta sexta-feira, o Ibovespa chegou a tocar brevemente terreno negativo no meio de tarde, renovando a mínima da sessão a 77.754,45 pontos, mas voltou a sustentar ganho, que se acentuou na meia hora final do pregão. “O investidor chegou a tirar o pé e o índice perdeu fôlego. É algo natural em véspera de fim de semana com feriado na terça-feira, aqui mas não no exterior, o que contribui para redobrar a cautela, especialmente porque na segunda-feira haverá vencimento de opções sobre ações na B3”, diz Pedro Galdi, analista da Mirae.
No fim da sessão, as blue chips como Petrobras, Vale, bancos e siderúrgicas se firmavam em alta, dando um vigor extra para o Ibovespa perto do fechamento. Petrobras ON e PN mostravam ganho, respectivamente, de 3,53% e 2,61%, enquanto Vale ON fechava em alta de 2,90%. Entre as siderúrgicas, destaque para Gerdau PN (+6,22%) e entre os bancos, para Banco do Brasil (+2,71%). Na ponta do Ibovespa, Multiplan encerrou esta sexta-feira em alta de 11,44% e Localiza, de 8,36%.
Os catalisadores mais importantes do dia estavam disponíveis desde a abertura, superada a expectativa pelo PIB da China no primeiro trimestre e pela substituição de Luiz Henrique Mandetta no comando da Saúde. Depois do fechamento de ontem, a sinalização dada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre um plano gradual de reabertura da economia americana em três fases também animou os mercados globais nesta sexta-feira, desde cedo. As bolsas europeias fecharam o dia em alta, com destaque para avanço de 3,42% em Paris, de 3,15% em Frankfurt e de 2,82% em Londres. Em Nova York, os três índices de referência também fecharam em alta, com destaque para ganho de cerca de 3% no blue chip Dow Jones.
A leitura que prevaleceu na sessão foi a do copo meio cheio: o PIB da China teve contração de 6,8% no primeiro trimestre, a primeira da série histórica que retrocede a 1992, mas sem consumar o pesadelo das previsões, de que chegaria à casa de -8% no período. Por aqui, a elevação da temperatura política em Brasília, após os ataques do presidente Jair Bolsonaro ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, contribuiu para alguma cautela antes do fim de semana, em novo episódio de esgarçamento na já difícil relação entre o Executivo e o Legislativo.
Por Luís Eduardo Leal
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