Ao todo, 4.576 profissionais de saúde da rede municipal já foram afastados de hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e prontos-socorros. Desse total, cerca de 700 são vítimas confirmadas da covid-19; os outros foram impedidos por síndrome gripal. Os dados foram fornecidos ao Estado pelo secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido. Não há dados consolidados sobre os que já retornaram ao trabalho.
Os afastamentos totais, que equivalem a 5% dos 84 mil servidores da Secretaria Municipal de Saúde, preocupam as autoridades. O órgão estima que os hospitais podem ficar sem médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem se o índice de afastamento se aproximar de 15%. “A gente trabalha esse número de maneira geral, com base nas experiências de outros locais onde a pandemia já ocorreu”, explica o secretário. “Com a pressão que estamos tendo, a gente ficaria com quadro deficitário em UTI e semi.”
Essa preocupação não é só paulistana. O secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, afirmou que a cidade de Manaus está em um ponto da curva de crescimento dos casos de covid-19 próximo da linha de capacidade de atendimento no sistema de saúde. Para aumentar essa capacidade, a partir de hoje serão enviados profissionais da força nacional do SUS, entre enfermeiros e médicos com experiência em ações semelhantes.
A contaminação dos profissionais de saúde da esfera paulistana se repete, em linhas gerais, nos outros grandes hospitais. O Albert Einstein informou que “348 dos 15 mil colaboradores (2%) foram diagnosticados com a doença”. De acordo com o hospital, “desses, 169 (1%) são da assistência (profissionais com formação em Saúde, como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem)”. O Hospital Sírio-Libanês informa 104 afastamentos e esclarece que o total envolve médicos, pessoal da enfermagem, limpeza e auxiliares administrativos. O Hospital das Clínicas, por sua vez, afastou 535, sem dar detalhamento.
Esses números escondem trajetórias interrompidas. A enfermeira Ana Luiza, de 24 anos, que atua em um grande hospital privado de São Paulo, foi afastada no dia 27 com o novo coronavírus. Ela já está recuperada e fala normalmente, sem a falta de ar característica dos doentes de covid-19. Não precisou ser internada, mas teve de cumprir os 14 dias de isolamento. Esse foi o maior desafio: ficar dentro do próprio quarto, longe dos pais, Carlos, de 55 anos, e Karen, de 54. A mãe preparava as refeições e as colocava em uma embalagem descartável em um banco na porta do quarto.
Todos os profissionais afastados no hospital de Ana devem fazer um novo teste antes de voltar ao trabalho. Seu teste ainda deu positivo. Ela não tem sintomas, mas está com o vírus. Por isso, a enfermeira terá de ficar mais sete dias em casa, ainda isolada, pegando a comida na porta do quarto.
Para minimizar o problema dos afastamentos, a Prefeitura de São Paulo está em contato com Organizações Sociais de Saúde (OSS), entidades que fazem a gestão de complexos, para treinar médicos e enfermeiras a fim de atuar nos tratamentos intensivo e semi-intensivo dos hospitais dedicados ao tratamento da covid-19. O número de profissionais ainda não está definido, pois vai variar de região para região.
Na esfera estadual, o governador João Doria (PSDB) anunciou nesta segunda-feira a contratação de 1.185 profissionais para atuar no sistema de saúde pública. Serão 245 médicos, 840 técnicos de enfermagem, 50 fisioterapeutas, 30 oficiais de saúde e 20 assistentes sociais.
Médicos e enfermeiros de hospitais privados relatam que praticamente todos os profissionais das áreas médica e de enfermagem já foram realocados. Isso exigiu treinamento específico, principalmente, sobre o uso dos novos equipamentos de segurança.
Proteção
A contaminação dos profissionais de saúde mantém aberta a discussão sobre o oferecimento dos equipamentos de proteção individual (EPIs). O secretário garante que os profissionais estão utilizando os materiais adequados. “São distribuídos na medida em que o profissional tem o contato com o doente mais grave. Hoje nós consumimos 500 mil máscaras por semana no quadro que temos hoje”, diz.
As entidades trabalhistas discordam. O Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município (Sindsep) informa que já recebeu mais de 400 denúncias sobre falta de EPIs. Anteontem, o sindicato realizou um protesto na Avenida Paulista. De acordo com o órgão, 16 profissionais já morreram de covid-19. Na contagem da prefeitura, foram dez mortos até exta-feira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Gonçalo Júnior
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