Em menos de quatro semanas com casos confirmados do novo coronavírus, o Amazonas se tornou o Estado da região Norte com o maior número de infectados, com 532 pacientes positivos para a covid-19 e 19 óbitos. Só nesta segunda-feira, 6, foram 115 novos casos, confirmando o aumento exponencial previsto pela Secretaria de Saúde do Estado, que espera um colapso no sistema de saúde nos próximos dias.
De máscara, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, anunciou, em vídeo publicado em rede social, que a rede hospitalar do Estado já entrou em colapso. Já o secretário de Saúde do Estado, Rodrigo Tobias, informou nesta segunda que isso deve ocorrer nos próximos dias. “O sistema ainda não entrou em colapso nessa ideia de que não possuem leitos para quem precisa, mas amanhã esse número pode aumentar”, reconheceu, em transmissão ao vivo na tarde desta segunda.
O Hospital Delphina Rinaldi Abdel Aziz, na zona norte de Manaus, é o local onde estão os internados com casos graves. São 82 pessoas internadas com o novo coronavírus, além de 144 com suspeita de estarem com a doença. “Precisamos entender que, além do coronavírus, temos outros vírus de síndrome respiratória aguda que se confundem com o quadro clínico da covid-19. Nossos leitos estão com os casos confirmados, os suspeitos e os demais casos”, constatou Tobias.
Desde 16 de março, o governo do Amazonas tem publicado decretos determinando a suspensão de atividades com aglomerações, como aulas, eventos e até o fechamento de estabelecimentos comerciais de serviços ou produtos não essenciais. Os transportes fluviais intermunicipal e interestadual também foram suspensos desde o dia 19 de março, o que não evitou que o interior fosse acometido pela doença. São 59 casos em outros 11 municípios.
Os casos mais graves são transportados para Manaus, enquanto os leves recebem o atendimento das unidades locais. Um deles foi o de um bebê de um ano e quatro meses, em Parintins (a 369 quilômetros a leste de Manaus). Ele recebeu alta neste domingo, 5, quando era o terceiro caso confirmado no município.
Também no interior está o primeiro caso confirmado de uma indígena infectada. Ela possui 20 anos, pertence à etnia Kokama, no município de Santo Antônio do Içá (880 quilômetros a oeste de Manaus). A suspeita é que ela tenha contraído o vírus após contato com um médico do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) que testou positivo. A indígena e duas aldeias inteiras da região estão isoladas. Aproximadamente 1 mil indígenas vivem no local.
Efeito em Manaus
O centro comercial e turístico de Manaus reduziu aos poucos as atividades, principalmente após o decreto de suspensão do comércio não essencial. Não se pode, entretanto, dizer o mesmo sobre os bairros mais periféricos da capital amazonense, com fluxo praticamente normal em áreas comerciais. Para ampliar a recomendação de isolamento, a Polícia Militar iniciou nesta segunda-feira uma operação para orientar pequenos comerciantes a ficarem em casa.
O servidor público federal Paulo Sergio, de 34 anos, provou que nem mesmo os mais atentos às medidas de prevenção à doença estão livres do contágio. Ele, os pais e a irmã testaram positivo para a covid-19. Mesmo sem nenhum problema de saúde, característico do grupo de risco, ele teve pneumonia severa. Chegou a temer pela própria vida, mas já se sente recuperado.
“Fiquei internado de 22 a 27 de março”, revelou. “Eu não tenho noção de como peguei. Todo mundo em casa teve a covid. Foram quatro pessoas, sendo eu o caso mais grave. Tive febre todo dia, muita tosse e depois a dificuldade de respirar. Senti melhora lá pelo dia 25, mas minha maior preocupação era o meu pai, que é hipertenso e diabético, mas só teve sintomas leves”, disse Paulo, aliviado.
Em casos de sintomas menos graves, paira a incerteza. Foi o que aconteceu com a jornalista Mônica Dias, 28. Ela teve gripe, febre e dor de cabeça no início de março, após contato com uma pessoa que esteve recentemente em Dubai. Mônica foi até um posto designado para atendimento exclusivo a casos suspeitos, mas recebeu apenas um atestado médico de cinco dias.
“Na época em que eu estava doente, o exame estava sendo feito apenas em casos muito graves. Antes de ir ao posto médico público, eu liguei para um laboratório particular para solicitar o exame, mas ele tinha acabado. Na terceira semana eu já estava muito debilitada e tossindo muito. Fiquei com medo de voltar ao posto de saúde e preferi esperar em casa até ficar boa”, relata Mônica, que já se considera recuperada, mas segue em isolamento.
Por Bruno Tadeu, especial para o Estado
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