A corrida do brasileiro ao supermercado para fazer estoques de alimentos e itens de higiene e limpeza por causa da pandemia do novo coronavírus já provoca a falta de alguns produtos nas lojas, especialmente mercadorias básicas. O índice de falta de itens nas prateleiras dos supermercados chegou a 11,3% no último sábado em cerca 20 mil lojas espalhadas pelo País, segundo pesquisa feita pela Neogrid, empresa de tecnologia que monitora os pedidos do varejo para a indústria.
“Quando o indicador passa de 10% já é considerado muito alto”, afirmou o vice-presidente da empresa e responsável pelo estudo, Robson Munhoz. Dados preliminares mostram que no domingo esse indicador continuou subindo e atingiu 11,7%. O executivo destacou que a trajetória ascendente reflete o pânico que houve na população nos últimos dias para fazer estoques. Em épocas normais, a ruptura, como é chamada a falta de produtos pelos supermercados, varia entre 7% e 8%.
Munhoz ressaltou que não há desabastecimento no varejo, mas sim um descompasso entre a velocidade de vendas nas lojas e a logística para transferir os estoques dos centros de distribuição para os pontos de venda de itens mais procurados neste momento. “Grandes varejistas fizeram a lição de casa e aumentaram as compras da indústria. O problema é que leva tempo para entregar o produto no centro de distribuição e depois fazer a entrega na loja”, disse o executivo.
Um recorte especial da pesquisa mostra que, de uma cesta de 28 itens mais vendidos e mais escassos, o antisséptico para mãos foi o campeão: as vendas cresceram 630,5% em março ante janeiro, os estoques caíram quase pela metade (47%) e o índice de redução na oferta do produto na loja chegou a 31% no fim de semana. No mesmo período, as vendas de álcool aumentaram 322,7%, os estoques caíram quase 30% e a escassez beirava também os 30%. No caso do papel higiênico, as vendas dobraram de fevereiro para março e a falta chega a 10%. Alimentos básicos como leite em pó, leite longa vida, açúcar e massas também estão na lista dos mais procurados e que enfrentam escassez, com índices de 9,4%, 19,4%, 7,9% e 9,9%, respectivamente.
A reportagem percorreu as lojas de hipermercados e constatou a escassez dos produtos apontados pela pesquisa e também de vários outros. Era possível ver espaços vazios nas prateleiras nas lojas do Big e do Carrefour. Já no hipermercado Extra, há cartazes informando o limite de compra de unidades por pessoa para itens como feijão, arroz, leite em pó, fraldas e macarrão.
O Grupo GPA, dono das bandeiras Extra e Pão de Açúcar, informou, por meio de nota, que estabeleceu um limite de unidades vendidas por cliente para itens de higiene pessoal e alimentos de primeira necessidade. A determinação vale para todas as lojas das duas bandeiras por tempo indeterminado. O GPA informou também que a partir de hoje terá atendimento exclusivo para clientes com mais de 60 anos das 6h às 7h nas lojas do Pão de Açúcar, exceto nas que ficam em shoppings.
O Grupo BIG esclareceu, por meio de nota, que “o abastecimento de suas lojas segue normalizado, mesmo com o aumento do fluxo de clientes e incremento nas vendas acima da média registrados na última semana”. A rede destaca que, por causa da alta demanda no mercado, o álcool em gel é o produto que apresenta a maior dificuldade de reabastecimento, porque a indústria não tem capacidade para atender os pedidos do mercado como um todo. Procurado, o Carrefour não se manifestou.
O presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Ronaldo dos Santos, informou que houve um salto de 34% nas vendas dos supermercados do Estado de São Paulo na terça-feira, 17, em relação ao mesmo período de fevereiro. Na avaliação dele, o problema está na velocidade da reposição dos itens na prateleira, o que é um problema de logística, e não de falta de produto na indústria – ao menos por enquanto.
Esse movimento foi constatado pela reportagem nas lojas. Além da grande quantidade de consumidores indo às compras em plena manhã quarta-feira, normalmente um dia fraco de vendas, a reportagem se deparou com inúmeros funcionários, tanto da indústria como dos supermercados, repondo mercadorias.
O presidente da Apas admitiu que os supermercados estão faturando mais com a crise, porém acredita que essa antecipação de compras para formação de estoques pode significar um consumo menor nas próximas semanas. No entanto, ele acredita que o ganho maior de vendas vem da migração para o preparo dos alimentos em casa. Como as pessoas estão deixando de sair de casa para comer fora, os supermercados estão ganhando a fatia de gastos que iriam para os bares e restaurantes.
Por Márcia de Chiara
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