A polícia de choque da Venezuela usou nesta terça-feira, 10, gás lacrimogêneo nas ruas de Caracas para dispersar as manifestações lideradas pelo presidente autodeclarado Juan Guaidó, que exige eleições presidenciais. Os manifestantes caminharam da Praça Juan Pablo II, em Chacao, rumo à Assembleia Nacional, localizada no centro da capital.
Os opositores ao governo do presidente, Nicolás Maduro, tinham como objetivo a retomada do controle da Assembleia Nacional, sob o comando dos parlamentares pró-governo desde janeiro. Guaidó fez um chamado à população para se juntar ao ato como uma forma de reviver os protestos de rua contra Maduro, que surgiram em 2019, mas perderam força este ano. Eles defendem um debate nacional sobre medidas para tirar a Venezuela da crise e, principalmente, articular a convocação de novas eleições presidenciais.
Os milhares de manifestantes foram contidos pela polícia e, quando Guaidó tentava dialogar com os policiais para fazer a marcha continuar, os disparos de gás lacrimogêneo foram efetuados. A maioria dos milhares de manifestantes deixaram o local, enquanto outros com rostos cobertos respondiam aos disparos com pedras. Um veículo blindado bloqueou o caminho para chegar ao Palácio Legislativo, previsto como ponto final da manifestação.
A manifestação é um teste da capacidade de Guaidó em arregimentar apoiadores, que se mostram cada vez mais exauridos com os impactos da crise econômica e a inabilidade da liderança da oposição para tirar Maduro do poder, apesar do regime de sanções imposto pelos Estados Unidos. “A única opção possível para os venezuelanos é escapar do desastre”, afirmou Guaidó, ao convocar a população na Segunda-feira.
Retomada
Antes de dar início aos protestos, Guaidó, de 36 anos, em cima de uma caminhonete e com um megafone, dizia à multidão que “hoje começa uma etapa de luta que será mantida até obter resultados”. A mobilização de ontem foi a mais ambiciosa de Guaidó, desde que ele retornou de uma viagem por oito países.
No tour que realizou em busca de apoio diplomático, o líder oposicionista foi recebido por autoridades como Donald Trump, presidente dos EUA, Boris Johnson, premiê britânico, e Emmanuel Macron, presidente francês, além de discursar durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Guaidó também foi recebido por líderes da União Europeia.
Nesta terça, 10, os simpatizantes de Maduro também saíram às ruas. Os apoiadores do presidente venezuelano gritavam seu nome durante a passeata que também foi em direção à Assembleia Nacional. Os governistas consideram Guaidó um “traidor da pátria”.
Maduro, herdeiro político de Hugo Chávez (1999-2013), acusa a oposição de promover uma “guerra econômica” contra seu governo. O país vive uma profunda crise econômica, a inflação ultrapassa os 300% e um grave desabastecimento acirra ainda mais a tensão política.
‘Encurralada’
O vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, considerado o número 2 do chavismo, disse que a marcha da oposição era uma tentativa de a direita recuperar sua capacidade de mobilização.
“Toda vez que a direita está encurralada, eles procuram eventos que possam aumentar a empolgação de pessoas que deixaram de estar empolgadas há muito tempo. Eles tentam criar liderança onde não há”, disse Cabello.
Em janeiro, um grupo de legisladores apoiados pelo PSUV instalou o chavista Luis Parra como líder do Congresso, após tropas terem bloqueado a entrada de Guaidó. Depois, parlamentares da oposição reelegeram Guaidó para um segundo mandato – mas eles têm sido incapazes de se reunir no Palácio Legislativo desde então.
Mais de 50 países, incluindo o Brasil e os EUA, reconheceram Guaidó no ano passado como presidente legítimo da Venezuela, após a reeleição de Maduro, em 2018, ter sido considerada fraudulenta.
A Venezuela tem programada para este ano uma nova eleição parlamentar, mas a oposição, sob o comando de Guaidó, ainda não conseguiu definir se participará da disputa. Para os opositores, Maduro não oferece condições adequadas para que haja uma eleição justa.
Fuga
Contrariando a praxe de todas as eleições venezuelanas anteriores, Maduro tem buscado dificultar que organismos independentes internacionais participem do monitoramento das votações. Um levantamento feito pela ONU, divulgado na terça-feira, indica que, desde 2015, 4,9 milhões de venezuelanos já deixaram o país para escapar do drástico cenário de crise que parece não ter fim. (Agências Internacionais)
Por Caracas
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