O ex-senador cearense Mauro Benevides, do MDB, esteve no foco da história política recente do País. Foi vice do deputado Ulysses Guimarães no comando da Assembleia Constituinte, chefiou o Congresso no impeachment de Fernando Collor e chegou a sentar na cadeira de presidente da República, na ausência de Itamar Franco. A habilidade política lhe garantiu 14 mandatos eletivos, de vereador a senador, e catapultou a carreira na vida pública de três dos seus quatro filhos. Só não foi suficiente para o patriarca, de 89 anos, garantir o consenso na própria família. Uma complexa briga no clã envolve processos judiciais e relatos de ameaças de morte.
O capítulo mais recente da confusão foi escrito em fevereiro, quando o advogado e ex-vereador de Fortaleza Carlos Régis Benevides, o caçula, escreveu à Procuradoria-Geral da República duas laudas de denúncias contra os irmãos Carlos Eduardo Benevides, empresário e ex-deputado, e Mauro Filho, atual deputado federal. Sem apresentar provas, Régis disse que as autoridades podem chegar ao “maior escândalo de corrupção do Ceará”. Eduardo e Mauro classificaram a acusação como “surreal” e disseram ao Estado que o irmão busca extorqui-los.
Eduardo é dono da Copa Engenharia, empresa que, entre 2009 e 2018, assinou 23 contratos com o governo do Ceará, totalizando R$ 188,6 milhões. Era deputado federal até ser cassado, em 1994, como um dos “anões do Orçamento”. Já Mauro, o outro irmão, tem influência em governos no Ceará desde 2007 e ocupou por diversas vezes as secretarias estaduais da Fazenda e do Planejamento. “Todo mundo fala que Mauro é sócio oculto de Eduardo. Quero que apurem. E por isso muita gente diz que eu não passo deste mês no Ceará. Lá tem muito crime político, é uma terra meio sem lei”, disse Régis.
Mauro afirmou que a acusação não tem cabimento porque desde 2008, por iniciativa dele, os contratos do Ceará são firmados pela Procuradoria-Geral do Estado. No período em que foi secretário, ele não teria tido controle nas licitações. O deputado nega, ainda, vínculo com a construtora de Eduardo.
Régis é o epicentro da crise familiar. Ele recorre a expressões como “ladrão corrupto” e “especialista em surrupiar dinheiro público” para se referir aos irmãos em vídeos na internet. O advogado afirmou que não tem interesse político e disse pretender apenas que o pai saiba a verdade antes de morrer.
O pai, no entanto, defende Eduardo e Mauro. No último dia 28 de dezembro, Mauro Benevides foi a uma delegacia do Lago Sul, em Brasília, registrar um Boletim de Ocorrência (BO) contra o próprio filho Régis por falsidade ideológica. “É um profundo constrangimento. Na minha família sempre teve uma tradição política com timbre da harmonização. Sempre procurei aglutinar em torno de uma postura correta”, disse o ex-senador.
No BO, Mauro Benevides registrou que seus perfis em redes sociais foram usados sem seu consentimento por Régis para criticar os irmãos. Em uma das postagens, a página em nome do ex-senador anunciou que o casamento de um neto, filho do deputado Mauro e marcado para aquele dia, havia sido cancelado. Régis negou.
Maria Regina de Borba Benevides, de 87 anos, mulher do ex-senador, disse estar preocupada com o destempero do caçula. “Régis é o mais novo e o que me dá trabalho. Eu não sei o que houve na cabeça dele. Eu acho que ele está com psicopatia, não está normal”, lamentou Maria Regina, com voz embargada.
Régis disse ao jornal O Estado de São Paulo que o pai, em razão da idade avançada, não tem “100%” de consciência. Ainda hoje, porém, Mauro Benevides dá expediente no Anexo 1 da Câmara – onde funciona a Associação dos Congressistas do Brasil, entidade da qual é o vice-presidente – e escreve artigos para jornais do Ceará. À reportagem, ele lembrou, orgulhoso, da trajetória política e relatou casos vividos especialmente ao lado de Ulysses Guimarães.
Trégua. No mês passado, o ex-senador sentou os filhos à mesa, em Fortaleza, e propôs uma trégua. A paz não durou uma semana. Régis voltou a atacar. Ele é processado pelos irmãos por calúnia e difamação. Em um dos casos, um filho de Eduardo, Diego Benevides, acusou o tio de tentar extorquir R$ 400 mil da família. O dinheiro seria usado para comprar um carro importado em troca da despublicação dos vídeos. Régis negou.
Na família, os ataques são vistos como sintomas de inveja das conquistas financeiras e pessoais dos irmãos. “Como ele não tem emprego definido, tenta fazer essas coisas. Eu acho que há esse sentimento, minha mãe fala muito isso”, disse Mauro.
Em um dos processos, Eduardo sugere que o irmão favorece a prostituição. “Utiliza as redes sociais para divulgar conteúdo referente à prostituição de jovens, algumas delas que teriam acabado de completar 18 anos”, disse na ação. Régis publica fotos de mulheres seminuas, mas nega agenciar encontros. “Sou um mulherengo, gosto de sair com várias.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Vinícius Valfré
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