Os juros futuros de curto e médio prazos fecharam em queda firme, refletindo o aumento da percepção de que o impacto da coronavírus sobre a atividade econômica global exigirá atuação de curto prazo dos bancos centrais com estímulos monetários. Mesmo o BC brasileiro, que acabou de interromper o ciclo de queda da Selic e sinalizar estabilidade para os próximos meses, pode ter de rever sua postura e reabrir o processo de alívio. Com isso, as apostas de corte da Selic já no Comitê de Política Monetária (Copom) de março tiveram um salto em relação ao que se via na curva pela manhã.
As taxas longas fecharam a sessão regular em leve alta, em função da aversão ao risco nos mercados internacionais, mas mitigada pela expectativa de estímulos de liquidez. Na etapa estendida, porém, passaram a cair com força ante os níveis de encerramento da jornada regular.
Os principais vencimentos de curto prazo renovaram mínimas históricas, já bem perto de furar o nível dos 4%. O contrato de outubro de 2020 chegou a renovar a mínima em 3,995% na estendida, mas fechou a 4%.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou etapa a regular na mínima de 4,095% e a estendida em 4,005%, de 4,150% ontem no ajuste. Entre os vértices intermediários, a taxa do DI para janeiro de 2022 também terminou na mínima na regular, em 4,59%, e cedeu para 4,480% na estendida, de 4,661% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,63% (regular) e 6,520% (estendida), de 6,571%.
A ponta curta já recuava pela manhã, mas à tarde o movimento ganhou impulso com zeragem de posições tomadas, em especial no miolo da curva, que tinham crescido muito desde que o Copom indicou a pausa no ciclo de cortes. “O mercado segue consolidando o cenário de atividade fraca em função do coronavírus, batendo os DIs curtos”, disse o gestor de renda fixa da Absolute Investimentos, Mauricio Patini.
Apesar do Banco Central ter elevado o “sarrafo” para voltar a cortar a Selic, citando “múltiplas incertezas no que tange ao atual grau de ociosidade”, parte dos economistas acredita que a realidade que se impõe é de que o cenário externo é desinflacionário, considerando não somente a possibilidade de enfraquecimento ainda maior da economia como também o fato de que os preços de commodities em reais estão em queda firme.
Em seus cálculos, a curva já aponta 25% de possibilidade de corte de 0,25 ponto porcentual na Selic no Copom de março, para 4%, de cerca de 10% visto pela manhã. Para maio, indica mais 25% de possibilidade de uma queda desta magnitude e, para o fim de 2019, a curva projeta Selic de 4,35%.
“Quanto ao provável impacto da crise sobre a inflação no Brasil, não temos dúvidas: ele será desinflacionário”, disseram, de forma categórica, em relatório, profissionais da MCM, frisando que está crescendo a probabilidade de retomada do ciclo de afrouxamento.
Por Denise Abarca
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