O dólar bateu em R$ 4,51 nesta sexta-feira, 28, mas o ritmo de alta perdeu força na parte da tarde, em um movimento de realização de ganhos, enquanto a divisa americana seguiu subindo forte perante emergentes. Mesmo assim, a moeda americana teve a oitava sessão seguida de valorização, movimento que tem obrigado o Banco Central a agir com frequência. Somente nesta sexta-feira, a instituição fez operações que somaram US$ 4,65 bilhões no mercado cambial, dos quais US$ 1 bilhão em dinheiro novo, por meio de oferta de contratos de swap (venda de dólar no mercado futuro).
O dólar à vista subiu 1,95% na semana e 4,5% em fevereiro, isso depois de avançar 6,8% em janeiro. No ano, o dólar sobe 11,6% e o real tem o pior desempenho em uma cesta de 34 moedas. Em fevereiro, a divisa dos EUA renovou sucessivos recordes históricos aqui, em meio às preocupações com os efeitos do coronavírus na economia mundial, que tem contribuído para fortalecer o dólar. Internamente, tem contribuído para pressionar o câmbio os ruídos políticos do Planalto com o Congresso, indicadores mais fracos da atividade e a crescente busca por hedge no mercado cambial, por fundos, tesourarias e empresas.
Na avaliação do economista-chefe para mercados emergentes da consultoria inglesa Capital Economics, William Jackson, a crescente preocupação mundial com o coronavírus colocou o real sob pressão. “Mas isto é apenas parte da história”, afirma ele, citando que a tensão política entre Jair Bolsonaro e o Congresso e a piora do déficit da conta corrente do Brasil têm tido peso relevante para faz o real ter desempenho pior que seus pares.
“A política doméstica pode se tornar um grande vento contrário para o câmbio”, diz Jackson, ressaltando que um evento importante a ser monitorado é a manifestação pró-governo marcada para o dia 15 de março e que tem apoio de Bolsonaro.
Para acalmar o mercado de câmbio, nesta semana, o BC injetou US$ 2,5 bilhões em dinheiro novo no mercado, via swap. Hoje colocou mais US$ 3 bilhões em leilão de linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra), para rolagem de contratos. “O BC ajudou a dar liquidez. Mas os leilões não vão segurar dólar neste momento, porque o movimento de fortalecimento da moeda americana é mundial”, avalia o responsável pela a área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem.
Além da manifestação a favor de Bolsonaro no próximo dia 15, março começa com agenda carregada, que terá a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (4), a superterça (3) nos Estados Unidos, onde vários estados fazem primárias para escolher seus candidatos, e ainda o relatório do mercado de trabalho americano (6), com dados de fevereiro. Hoje, o Bank of America Merrill Lynch e o Goldman Sachs passaram a prever cortes de juros pelo Federal Reserve já na reunião de março, dias 17 e 18. O primeiro banco não descarta nem que haja um “corte emergencial” antes da reunião, para acalmar os mercados, com as bolsas em Nova York na pior semana desde a crise financeira mundial.
Por Altamiro Silva Junior
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