O melhor movimento para os investidores neste momento é ficar onde estão e manter a calma, aconselham especialistas diante do mercado tão nervoso, que só nesta quarta-feira, 26, registrou queda de 7% do Ibovespa e levou o dólar a R$ 4,44. Eles avaliam que estamos “voando no escuro”.
O voo às cegas também foi a figura de linguagem usada pelo professor de Economia do Ibmec, Roberto Dumas. “O que dizer para o investidor? Não faça nada. Não compre e não venda suas ações, espere para ver o impacto dessa doença na economia”, disse ele. “Mais do que o coronavírus ter chegado ao Brasil, essa queda (nas ações) é a resposta do mercado para a doença ter chegado e se estabelecido na Europa. Isso torna tudo ainda mais incerto.”
De forma geral, os reveses da Bolsa e do real já eram amplamente aguardados pelos agentes econômicos, que acompanharam as ações de empresas brasileiras mergulharem nas Bolsas mundiais durante a folia de carnaval, queda em igual proporção à observada na quarta-feira, aqui no Brasil. “O nosso mercado estava fechado para o carnaval e a gente sabia que haveria forte correção quando ele reabrisse. Avaliando tudo, a Bolsa começou o dia até que bem, mas depois ampliou as perdas e empatou com o resto do mundo”, diz o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira. “Agora é acompanhar os próximos dias.”
Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, estas quinta e sexta-feira, 27 e 28, devem ser marcados por baixas no mercado de renda variável. A partir da semana que vem, o mercado deve recomeçar a sua caminhada, já dentro de uma nova realidade imposta pelo avanço do coronavírus. “Por incrível que pareça, essa queda de hoje (ontem, quarta-feira) tem um lado bom: que é já descarregar logo o impacto negativo dessa doença. Agora, vai depender dos desdobramentos futuros.” Para os clientes, a recomendação de André Perfeito é, no mínimo, complexa. “É difícil dizer alguma coisa agora. De forma geral, não faça mesmo nenhum movimento, espere. Mas se o cliente tiver mais apetite de risco, existem opções”, afirma.
Comprador.
Por opções, Perfeito sugere o que o maior investidor individual do Brasil, o paulistano Luiz Barsi, diz ter feito. Com mais de R$ 2 bilhões aplicados na B3, ele conta que a quarta-feira foi dia de ir às compras. “Comprei mais de um milhão de ações”, celebrava, por volta das 16 horas, ainda restando quase duas horas para o fechamento do pregão. No fim do dia, Barsi descarregou mais de R$ 10 milhões na B3 e resumiu a jornada em tom professoral. “Você não pode se esquecer que o mercado de ações não é de risco, é de oportunidade. E quando as oportunidades aparecem, você tem de comprar”, disse.
A estratégia de Barsi agrada alguns especialistas. Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital, é um deles. “Se você é conservador, o momento é de incerteza. Agora, se for agressivo, com visão de longo prazo, pode ser um bom momento para entrar na Bolsa”, diz. Para justificar o tom otimista, conta que elaborou um estudo, com base nas últimas cinco grandes epidemias que assolaram o mundo a partir dos anos 2000 – do ebola ao Sars. “Meus estudos apontam que, em média, três meses após o auge dessas doenças, os mercados já estavam normalizados”, diz.
O problema na teoria de Frasson é saber quando a atual epidemia alcançará seu ápice. Pelo sim, pelo não, especificamente no âmbito financeiro, fica o conselho do planejador Roberto Agi, especialista pela Planejar.
“Uma queda dessa magnitude não é algo corriqueiro, mas é esperada quando se fala em renda variável. O principal risco é se o investidor estiver mal alocado, se tiver dinheiro de curto prazo, para pagar contas, em renda variável. Isso é loucura e o tombo será grande. Mas para o longo prazo, acima de 15 anos, tudo bem. Para esse investidor, por enquanto, nada mudou”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Renato Jakitas
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