A balança comercial de janeiro registrou déficit de US$ 1,7 bilhão, após consecutivos superávits neste mesmo mês desde 2016. De acordo com analistas, é prematuro fazer projeções com base no resultado de um único mês. No entanto, novos acontecimentos em janeiro sinalizam e reforçam a tendência de uma redução no déficit da balança comercial para 2020.
O primeiro, já mencionado no Indicador de Comércio Exterior (Icomex) de janeiro, divulgado pela Fundação Getukio Vargas (FGV), refere-se a questão do acordo entre a China e os Estados Unidos. Os pesquisadore reforçam a projeção de que haverá perdas nas exportações de soja, mas o principal risco são as perdas potenciais nas exportações de carnes, devido às medidas do acordo EUA-China de facilitação de comércio com os Estados Unidos (concorrente do Brasil neste segmento) associadas às barreiras fitossanitárias.
A trégua na guerra comercial foi entendida como um fator positivo para o comércio mundial por diversos analistas. No entanto, o acordo de “comércio administrado” por metas abre um precedente de risco para o equilíbrio do comércio mundial, ligado à diferença de poder entre os países. Que novos acordos podem ser esperados? O cenário é de incerteza.
Um fato novo é a epidemia do coronavírus na China. Projeções do crescimento chinês este ano sob o efeito dessa epidemia variam de 5% a 6%. O coronavírus, junto com os efeitos do acordo entre China e Estados Unidos, aponta uma queda nos preços das commodities para os próximos meses, e de recuo do volume importado pela China.
Estimativas de perdas para as exportações brasileiras são incertas, pois ainda não se sabe quanto tempo irá demorar para que o controle da epidemia do coronavírus esteja garantido. De qualquer forma, numa visão otimista, as exportações brasileiras para a China poderão recuar ao redor de 10/15%.
Outra questão é o efeito Argentina. É pouco provável que a economia argentina possa contribuir para o aumento das exportações brasileiras em 2020. Segundo as estimativas de Luana Miranda, analista econômica do IBRE/FGV, o efeito Argentina pode reduzir o crescimento brasileiro este ano de 2,5% para 2,2% (Blog do IBRE, 14/02/2020). O efeito argentino não é novo, mas o fato é que continuará a afetar as exportações de produtos manufaturados brasileiros.
A construção de um clima de entendimento entre os dois países, com a visita do Ministro de Relações Exteriores da Argentina ao Brasil, levando à possibilidade de suspensão de medidas de licenças para importações, é um passo importante. No entanto, a recuperação das exportações brasileiras do setor automotivo depende de uma volta a um ciclo de crescimento na Argentina, possibilidade que não está num horizonte próximo, mesmo que o país acerte sua negociação com o Fundo Monetário Internacional.
Observa-se que para China foi registrado um déficit de US$ 1.566 milhões puxado por uma queda das exportações em valor de 8,8% explicada por um recuo de 2,5% no volume e de 6,4% nos preços. No caso das importações, a variação em volume foi positiva (3,4%), mas os preços caíram 3,8%.
A balança comercial com os Estados Unidos também foi deficitária (US$ 847 milhões) com queda nas exportações de 28,8% em valor e de 23,2%, em volume e 7,3% nos preços. Nas importações foi registrada uma variação positiva em valor (+8,7%), volume (+8,4%) e preços (+0,4%).
A Argentina entre os três principais parceiros foi o único mercado onde as trocas comerciais foram favoráveis ao Brasil com um pequeno superávit no valor de US$ 17,8 milhões. As exportações caíram 0,9% em valor, 0,2% em volume e 0,7% nos preços. Ressalta-se que a menor queda nas exportações em relação aos meses anteriores é explicada por uma venda superior a US$ 100 milhões de um tipo de álcool e de tratores. As importações recuaram em 17%(valor), volume (-13,6%) e preços (-3,7%).
Por último com a União Europeia o déficit foi de US$ 575 milhões, com recuo em valor nas exportações de 25%, no volume de 24,6% e nos preços de 0,6%, sempre sendo a base de comparação janeiro de 2020 em relação a janeiro de 2019. Nas importações, as compras brasileiras aumentaram 4,6% em valor, mas puxadas pelo aumento de preços (8,4%), pois o volume registrou queda de 3,7%. Em suma, a China teve a maior contribuição para o saldo comercial deficitário de janeiro.
Um quarto fato relevante é a desvalorização cambial, que prosseguiu neste início do ano e, em tese, provocaria uma reação positiva das exportações. Desde setembro de 2019 é identificada uma trajetória de desvalorização da taxa de câmbio efetiva real. Entre janeiro de 2020 e dezembro 2019, o câmbio desvaloriza em termos reais 5,2%. No entanto, setores exportadores, como o automotivo, são também setores que consomem insumos importados. Isso vale ainda para o setor farmacêutico, por exemplo. Além disso, a incerteza que permeia os rumos da taxa de câmbio refreia as decisões de compras e vendas no comércio exterior.
Em suma, diversos fatores, em evidência em janeiro, sugerem que o cenário para um aumento das exportações brasileiras não é promissor.
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