Enquanto os operadores em Wall Street aproveitavam o feriado da segunda-feira (17), comemorando o Dia do Presidente, a atividade na sede da Apple, em Cupertino, Califórnia, era intensa, especialmente no time de Relações com Investidores. A Apple divulgou um alerta, sem números, dizendo que suas atividades estavam sendo prejudicadas pelo coronavírus. Ela informou que havia previsto o trabalho voltaria ao normal na China após o feriado de Ano Novo Lunar, que acabou em 10 de fevereiro. No entanto, ela estava “experimentando um retorno mais lento do que o esperado às condições normais de trabalho”.
O impacto ocorreu tanto na oferta quanto na demanda. No lado da oferta, a empresa fundada por Steve Jobs advertiu que “a oferta global do Iphone será temporariamente prejudicada”. No lado da demanda, várias lojas abertas recentemente na China “estão operando em horários reduzidos e com uma frequência de consumidores muito baixa”. A Apple advertiu que a estimativa (“guidance”) de receitas entre US$ 63 bilhões e US$ 67 bilhões no primeiro trimestre deste ano não será cumprida. Para comparar, o faturamento do primeiro trimestre de 2019 foi de US$ 58 bilhões.
O alerta da Apple lança uma sombra de desconfiança sobre os resultados de outras empresas americanas com atividades na China. A Tesla inaugurou sua Gigafactory em Xangai em dezembro de 2019 com muito alarde, em um momento no qual o consumidor chinês não deverá estar muito disposto a comprar carros caros. Outras empresas que dependem muito do consumidor chinês, como Nike e Disney, também deverão ver seus resultados afetados pela desaceleração da economia. As atividades estão fracas, e as medidas de estímulo do Banco do Povo da China (o banco central chinês) devem ser insuficientes para reverter esse momento ruim.
Como era de se esperar, a notícia repercutiu negativamente sobre os índices de mercado. O índice SSE da bolsa de Xangai fechou praticamente estável, mas os demais índices asiáticos relevantes caíram muito. Em Tóquio, o Nikkei fechou em queda de 1,4% e, em Hong Kong, o Hang Seng recuou 1,54%. Na Europa, o alemão Dax está em baixa de 0,76% e o inglês FTSE cai um por cento. E o mercado futuro do S&P 500 está começando com leve queda de 0,46%.
Indicadores
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) não variou no segundo decêndio de fevereiro. No segundo decêndio de janeiro, a taxa havia subido 0,57%, informou a Fundação Getulio Vargas na manhã desta terça-feira (17).
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) passou de uma alta de 0,67% no segundo decêndio de janeiro para uma deflação (queda de preços) de 0,15% em fevereiro. Os preços dos Bens Finais caíram 1,18% em fevereiro, após terem subido 0,70% em janeiro. A maior contribuição para esse resultado partiu do subgrupo alimentos processados, cuja taxa passou de uma alta de 1,28% para uma queda de 3,29%.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,25% em fevereiro ante 0,45% no segundo decêndio de janeiro. A inflação caiu em cinco das oito classes de despesa que formam o IPC. Os preços da Alimentação recuaram de 1,22% em janeiro para 0,25% em fevereiro. No caso das Carnes Bovinas, após uma alta de 2,74% em janeiro a FGV registrou uma queda de 4,38% em fevereiro. A única alta foi registrada pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que subiu 0,44 por cento no segundo decêndio de fevereiro ante 0,17% em janeiro.
A FGV divulgou também o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) das capitais, que mostrou alta de 0,36% na segunda semana de fevereiro. Esse índice ficou 0,15 ponto percentual abaixo do 0,51% registrado na primeira semana do mês. Houve desaceleração da inflação nas sete capitais pesquisadas pela FGV.
O alerta da Apple é apenas o primeiro de vários que serão divulgados por empresas americanas nas próximas semanas. A primeira imagem da China é a de um grande fornecedor de tudo o que se pode imaginar. Essa imagem é correta, mas incompleta. A China também é um enorme mercado consumidor e os transtornos provocados pela epidemia do coronavírus devem afetar os resultados das principais empresas globais.
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