Dois acontecimentos trágicos marcaram a vida de Sonia Suely Silva Diamante, de 62 anos. Em 2004, ela ficou viúva. Mais tarde, em 2011, perdeu a filha mais nova, vítima de um assassinato. “Tive que me fechar no meu mundo. Não queria saber de nada. Não via mais graça em coisa nenhuma”, contou. Mas, há dois anos, Sonia resolveu mudar e voltar a conhecer pessoas. Tentou sites e aplicativos de namoro. Não teve muito sucesso no início, pensou em desistir, mas insistiu. Foi no site Coroa Metade que encontrou alguém com quem voltou a se sentir à vontade para recomeçar.
Otacílio Diamante, 60 anos, também viúvo, passava por um momento parecido – estava muito “para baixo” e angustiado com a vida. Incentivado pela filha, entrou no mesmo site de relacionamento de Sonia. Lá, se encontraram. E mesmo sendo de cidades diferentes (ela é de Pindamonhangaba; ele, Sumaré) encontraram muito em comum: idade, religião, interesses comuns, situação financeira, momento de vida…
“Entrei no site e me apareceu essa mulher maravilhosa. Estou vivendo uma felicidade plena. Foi um encaixe perfeito. Tive muita luta na minha vida, mas tudo que eu passei foi recompensado quando ela chegou”, disse Diamante.
A história de Sonia e Otacílio tem se repetido em diversos sites e aplicativos de namoro. A pesquisa ‘Estudo dos Solteiros,’ realizada pelo Match Group LatAm com mais de 5.200 solteiros online de todo o Brasil, mostra que 55% dos entrevistados consideram mais fácil encontrar um amor depois dos 50, pois as pessoas são mais maduras e sabem exatamente o que estão buscando. Além do já citado, Coroa Metade, esse público é o alvo do OurTime, Solteiros 50, Be2 e outros.
“O ciclo da vida que se inicia após os 50 anos pode ser o mais feliz da vida de uma pessoa, pois é quando ela se sente mais realizada. Há uma expressiva melhoria da qualidade de vida desse público quando há uma vida social intensa e essa é a proposta do OurTime: unir pessoas da mesma faixa etária e com os mesmos gostos para formar novos casais”, comenta Marcos Moraes, presidente do Match Group LatAm – empresa detentora da marca.
Afinidades
A funcionária pública Shirley Pires, de 55 anos, tinha terminado um relacionamento de quatro anos. “Eu estava triste e minha família insistia para que eu saísse e procurasse alguém. Entrei em um site de namoro com muita desconfiança, usei vários filtros de busca para tentar limitar minhas opções”, disse Shirley. “Aí, encontrei o Paulo. Ele morava no mesmo bairro da minha mãe, foi muito respeitoso na conversa que tivemos pelo site e descobrimos muito em comum”, completou.
Para a sexóloga Carla Cecarello, consultora do site Solteiros 50, quem está nessa faixa etária prioriza parceiros que estão no mesmo momento de vida. “As pessoas chegam a um grau de maturidade em que elas querem encontrar alguém pela afinidade e não pela diferença. Querem um companheiro para sair para dançar, viajar, jantar…”
Já para a Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) Carmita Abdo o fato é que “os 50 anos hoje não são o que eram no passado”. “Hoje, 50 anos é metade da vida. As pessoas estão vivendo muito mais. Quando um relacionamento termina, a pessoa ainda tem muito o que viver e conhecer”, diz.
Até quem ainda não chegou aos 50 tem preferido esse tipo de site ou aplicativo segmentado para pessoas mais maduras. “Eu tenho 42, minha futura esposa, a Patrícia, tem 44. A gente se encontrou em um site para pessoas a partir dos 50 anos. Isso porque nós dois estávamos buscando pessoas mais maduras para nos relacionarmos”, disse Juscelino Santos. Ele irá se casar no próximo dia 1 de março.
História
O criador do site Coroa Metade, o jornalista Airton Gontow, de 58 anos, conta que criou o site baseado em experiências pessoais. “Me separei aos 43 anos e, por dois anos, mesmo não sendo tímido, vivenciei as diversas dificuldades que um homem mais velho passa para encontrar uma nova companheira. A gente já não está mais na faculdade, muitas vezes não tem vontade de frequentar baladas, geralmente não quer se envolver afetivamente com alguém do trabalho”, disse.
Além disso, Gontow teve o ‘estalo’ para criação do site depois de uma reunião de amigos do colégio. “Fui a uma festa de amigos que se formaram juntos na antiga oitava série e que não se encontravam havia 30 anos. No encontro, vi que 60% dos antigos colegas eram solteiros, viúvos ou divorciados. Voltei para casa pensando em criar alguma coisa para esse público. Aí surgiu a ideia de criar um site de relacionamento”.
Mudança no modelo de família leva a outras escolhas
O CEO do happn, aplicativo de relacionamentos, Didier Rappaport, afirma que mudanças no modelo de família estão levando pessoas com mais de 50 anos a viverem novamente uma vida de solteiro. No Brasil, segundo ele, esse público já chega a 5% dos usuários da plataforma, enquanto em outros países eles são 3,5%. Leia a entrevista que ele deu ao jornal O Estado de São Paulo.
Na sua opinião, os usuários com mais de cinquenta anos procuram aplicativos como o happn?
Sim, com certeza! O modelo tradicional de família evoluiu muito na última década e cada vez mais pessoas com mais de 50 anos decidem viver uma vida solteira. Se compararmos com o passado, elas ficavam com a mesma pessoa a vida toda! Iniciar um novo relacionamento depois dos 50 anos pode ser difícil por vários motivos: as pessoas com esta idade já não flertam ou abordam ninguém há algum tempo; ou eles acabaram de terminar uma separação difícil. Essas pessoas podem ainda ter perdido a confiança em si mesmas e geralmente têm vidas profissionais ativas e toda uma família para cuidar, deixando pouco tempo para conhecer novas pessoas. Aplicativos de relacionamento são, portanto, uma solução para pessoas nesta faixa etária: eles ajudam a conhecer novas pessoas e a abrir uma gama totalmente nova de possibilidades. Isso pode ser visto em nossos números: a proporção de usuários acima de 50 anos aumenta ano a ano no happn, principalmente no Brasil: por aqui, eles representam mais de 5% de nossa base, quando no nível global, os 50+ são apenas 3,5%.
Qual seria o perfil deste usuário mais velho?
Na maioria das vezes, o usuário com mais de 50 anos é alguém que passou por uma separação e ainda está lidando com todas as emoções deste período difícil. No começo, eles querem dar um tempo para si mesmos, já que podem ter perdido a confiança em si mesmos, mas depois que a tristeza da separação termina, tem início um novo período de descobertas. Estes usuários querem viver uma história bonita e experimentar novamente a magia que acontece no início de um novo romance. Dessa forma, o happn é para eles uma grande oportunidade, que abre um novo leque de possibilidades. Eu, por exemplo, tenho uma amiga de 50 anos que se separou recentemente e tem sido muito difícil para ela. É um pouco como se seu mundo de repente desmoronasse nesses momentos. Cadastrar-se no happn foi realmente positivo para ela, que passou a receber likes de outros usuários e a se encontrar com homens que estavam passando pela mesma situação. Em vez de isolar na solidão, aplicativos de namoro ajudam pessoas com mais de 50 anos a se abrirem para o mundo novo e a recomeçarem novas histórias.
Os usuários mais velhos procuram algo diferente dos usuários mais jovens? Quero dizer, estão procurando um relacionamento real ou encontros casuais…
Depois de uma possível separação, as pessoas com 50 anos às vezes precisam de algum tempo para si mesmas. Neste período, elas podem querer conhecer alguém sem necessariamente se envolver: é uma fase de redescobertas. Mas, uma vez que a separação é “digerida”, as pessoas tendem a reviver a magia de conhecer alguém novo e aqueles momentos iniciais que fazem você se sentir vivo. Elas estão em busca de uma história bonita, mas que faça sentido, desejam encontrar alguém especial, com quem se sintam “conectados” e com quem desejem compartilhar um momento de suas vidas. As pessoas com mais de 50 anos já passaram por muita coisa, são experientes e mais conscientes sobre o que querem e o que não querem mais, principalmente quando se trata de um novo parceiro ou relacionamento. Mas essa visão prática deles não os torna menos entusiasmados! Pelo contrário, eles geralmente se demonstram muito empolgados para conhecer novas pessoas com quem podem compartilhar suas experiências. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Gilberto Amendola
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