O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu neste sábado, 8, em conversa com mais de 90 acadêmicos e intelectuais que precedeu a comemoração dos 40 anos do PT, no Rio, a ampliação do diálogo político de oposição ao governo Jair Bolsonaro para além do campo da esquerda. “Tem que ampliar a voz para a sociedade”, disse Lula, segundo relatos de participantes do evento.
Na véspera, a direção nacional do PT aprovou uma política de alianças para as eleições deste ano que prioriza os partidos de esquerda (PSB, PDT, PC do B, PSOL, Rede, PCO e UP) mas abre a possibilidade de composições pontuais com adversários, como os partidos do Centrão, e diferencia DEM e PSDB – classificados como “ultraneoliberais” – das legendas que apoiam Bolsonaro – chamadas de “extrema direita”.
O discurso de Lula vai na mesma linha de alguns dos participantes de uma mesa que reuniu representantes do PT, PSB, PDT, PC do B e PSOL como parte das comemorações, entre eles o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e Manuela D’Avila (PCdoB).
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, lembrou que quando o partido estava no governo federal e conduzia as políticas econômica e social contou com o apoio de setores fora da esquerda para a implantação de diversos programas como Bolsa Família, valorização do salário mínimo e Minha Casa Minha Vida.
Segundo ela, o momento agora é diferente, mas o PT tem dialogado com setores da centro-direita em ações pontuais no Congresso. Para Gleisi, o papel da esquerda é aproveitar as contradições existentes na base bolsonarista.
“Nós já fizemos conversas com partidos conservadores que são base de sustentação do Bolsonaro no Congresso em questões pontuais. A gente tem que explorar contradições dessa base”, disse ela.
Gleisi aproveitou para esclarecer a resolução política que define a política de alianças do PT para 2020 aprovada na véspera pela Executiva Nacional do partido.
Na sexta-feira, dirigentes petistas e a assessoria do PT disseram que a resolução priorizava os partidos de esquerda mas abria brechas para alianças eleitorais com o Centrão e antigos adversários como o DEM e o PSDB, vetando apenas os partidos de “extrema direita” como Aliança pelo Brasil, Novo e PSL – que não foram nominados no documento. No entanto, depois da repercussão da notícia nas redes sociais, a direção do PT divulgou uma nota, na madrugada de sábado, negando a possibilidade de alianças com democratas e tucanos.
Ainda na manhã deste sábado, mesmo depois da divulgação da nota, havia divergências entre dirigentes ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre o conteúdo da resolução política que define a política da alianças do partido. Alguns diziam que parcerias pontuais com nomes do DEM e do PSDB poderiam ser autorizadas. Outros afirmavam o contrário.
As contradições, segundo eles, vêm da dubiedade do texto que diferencia “ultraneoliberais” (DEM e PSDB) da “extrema direita”. A dubiedade, por sua vez, é fruto da dificuldade enfrentada pela direção petista para contemplar as diferentes posições internas sobre o tema.
Um dirigente usou como exemplo o caso do Rio de Janeiro, onde existe chance de um segundo turno entre o prefeito Marcelo Crivella (PRB), candidato do bolsonarismo, e Eduardo Paes (DEM). Neste caso, segundo petistas, o partido tenderia a apoiar Paes.
Segundo Gleisi, o PT vai priorizar os sete partidos de esquerda. Alianças para fora deste arco vão depender de autorização das direções estaduais e de os possíveis aliados não terem feito gestos de hostilidade ao PT e aos governos Lula e Dilma. Partidos de “extrema direita” estão vetados e DEM e PSDB, excluídos da lista de coligações.
Indagada se existe alguma possibilidade de alianças com democratas e tucanos em casos excepcionais, Gleisi respondeu: “ás vezes pode acontecer e vamos ter que decidir sobre isso como já decidimos outras vezes. Já desmanchamos alianças. O Brasil tem cinco mil e poucos municípios. Mas a orientação do partido é que nossas alianças preferenciais são com os partidos de esquerda”.
De acordo com ela, as nuances que diferenciam DEM e PSDB dos partidos de “extrema direita” se devem ao fato de que embora o PT discorde do programa econômicos de democratas e tucanos, considera que estes partidos não ameaçam a democracia.
“A questão da diferenciação é de ênfase política. Embora a gente seja contra o programa (econômico), esperamos continuar em uma democracia. Então nós respeitamos os movimentos de direita mas a extrema direita é a destruição da sociedade”, disse a presidente do PT.
Nome mais aplaudido da mesa, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) disse que as alianças eleitorais devem ser restritas aos partidos que ali estavam, mas, no enfrentamento ao governo Bolsonaro, mais setores devem participar do debate.
“A gente não tem que resistir ao governo Bolsonaro, tem que destruir o governo Bolsonaro”, disse o pré-candidato à Prefeitura do Rio.
Freixo tenta formar uma aliança de esquerda em torno de si, mas tem enfrentado dificuldades. Por enquanto, conta com sinalização positiva apenas do PT e PV, embora converse semanalmente com o presidente do PDT, Carlos Lupi, no Leme, bairro da zona sul do Rio onde ambos moram. Apesar disso, a legenda trabalhista tem candidatura própria anunciada: a da deputada estadual Martha Rocha, que também é cortejada pela campanha do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM). As portas para Freixo são mais fechadas no PSB.
Já Manuela D’Ávila, do PCdoB, candidata a vice-presidente na chapa do petista Fernando Haddad em 2018, acredita que a ampliação do diálogo deve passar pelas alianças eleitorais. “Precisamos falar com a sociedade como um todo e não apenas para nós mesmos”, disse ela. “Isso também passa pelas eleições. Eleição é algo muito importante no Brasil”, completou Manuela, que é pré-candidata à prefeitura de Porto Alegre e também tenta criar uma frente de esquerda em torno de seu nome.
Por Ricardo Galhardo e Caio Sartori
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