A queda da taxa de juros vem provocando um nó na cabeça de boa parte dos brasileiros: o que fazer agora com os investimentos? A taxa Selic, que caiu na quarta-feira, 5, para o patamar de 4,25% ao ano, é o indexador dos principais produtos de renda fixa, como são chamadas as aplicações conservadoras, destino de R$ 8,5 em cada R$ 10 poupados no Brasil. E sua queda foi enxugando os rendimentos pagos por produtos como CDB, títulos do Tesouro Direto, fundos DI e, claro, a caderneta de poupança.
“Ficou mais complexo investir”, diz Luiz Severiano Ribeiro, que lidera a área global de private bank do Itaú Unibanco. “O ‘rentismo’ no Brasil acabou”, afirma Dan Kawa, chefe de investimentos da TAG. “Os juros caíram a tal ponto que tanto faz se 4% ou 6% ao ano. A maré virou e, mesmo que os juros subam ou caiam um pouco, a estratégia não muda muito.”
Por conta desse novo cenário, bancos e corretoras vêm mudando suas orientações para os investidores. E a recomendação unânime é que a diversificação dos produtos que integram o portfólio de cada investidor é fundamental (como se pode ver no quadro ao lado, com as recomendações de alguns bancos de como montar uma carteira, dependendo do seu perfil).
“Tem de ampliar a exposição para além da renda fixa. A Bolsa é a nossa grande recomendação. Achamos que, no médio e longo prazos, os resultados vão compensar o investimento”, afirma Augusto Miranda, diretor de Private Banking do Bradesco.
Hoje, os gestores estão, gradativamente, ampliando a presença, nos portfólios de seus clientes, de produtos em fundos multimercado e ações. Os multimercados são fundos ativos, ou seja, constantemente balanceados por profissionais, que alocam o dinheiro dos investidores em uma cesta de produtos que vai da renda fixa à renda variável.
No ano passado, dados da associação das empresas do mercado financeiro, a Anbima, colocaram o multimercado na segunda posição na preferência do investidor, com R$ 66,8 bilhões em aportes, atrás apenas dos fundos de ações, que investem apenas em ativos de empresas negociados na Bolsa, que registrou R$ 86,2 bilhões em aplicações.
Bolsa de Valores.
Para Luis Azevedo, superintendente de análise da Safra Corretora, o Ibovespa pode repetir em 2020 o desempenho do ano passado, quando subiu mais de 30%. “Temos uma visão bastante otimista para a Bolsa neste ano. Tanto que nosso time de análise acabou de elevar as projeções para o Ibovespa, passando de 130 mil pontos para 140 mil pontos”, diz.
Para a renda fixa, a recomendação dos gestores é a de ampliar as posições dívidas corporativas. “Se for para manter a renda fixa, entendemos que um dos melhores instrumentos seriam as debêntures incentivadas, que possuem um bom risco de crédito e spreads (diferença entre custo de compra e custo de venda de uma ação ou um título) ainda razoáveis”, afirma Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos. Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe da corretora Modalmais, também destaca as debêntures de infraestrutura. Mas com cuidado. “Tem de avaliar risco e a liquidez do produto”, afirma.
Por falar em liquidez, os analistas apontam que no atual cenário o investidor deve se resignar com prazos maiores de saque de suas aplicações. Fabio Passos, do banco Indosuez, diz que tem batido nessa tecla com os seus clientes, principalmente os mais ricos. “Os bons investimentos estão cada vez menos líquidos”, diz ele, se referindo ao tempo em que o dinheiro deve ficar disponível para a aplicação. “Para as grandes fortunas, nós estamos até ampliando para 10% do portfólio a alocação em produtos que chamamos de ilíquidos, como aportes diretos em empresas de pequeno porte e com potencial de crescimento acelerado”, afirma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Renato Jakitas
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