O dólar fechou janeiro em nova máxima histórica, em R$ 4,2850, com o aumento da preocupação dos investidores dos efeitos da rápida disseminação do coronavírus na economia mundial. Bancos como JPMorgan, Goldman Sachs e Citi já estão revendo suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) seja da China, dos Estados Unidos ou do mundo. A moeda americana acumulou valorização de 6,81% no mês, a maior desde agosto de 2019, quando o mercado se estressou com a Argentina, por conta das baixas chances de Mauricio Macri ser reeleito.
O real foi uma das moedas com pior desempenho ante o dólar este mês, bem perto da África do Sul, onde a divisa dos EUA acumula aumento de 6,9%. Na semana, a moeda americana subiu 2,40% aqui, marcando a quinta semana consecutiva de ganhos.
A sexta-feira foi novamente dia de estresse no mercado internacional, em meio a notícias de que mais países, como a Suécia, passaram a registrar casos do coronavírus, mais companhias aéreas passaram a restringir voos para a China ou vindos do país asiático e os casos confirmados se aproximaram de 10 mil pessoas.
Com a rápida disseminação da epidemia, o JPMorgan cortou a previsão de crescimento da economia mundial em 0,3 ponto porcentual no primeiro trimestre, para 2,3%. O banco americano, contudo, espera que o impacto negativo da disseminação do vírus não dure muito, devendo durar entre 2 ou 3 meses, com base em experiências históricas com outras epidemias, como a do Sars em 2003. Com isso, o impacto maior no PIB será neste trimestre. Já o Goldman Sachs vê o coronavírus retirando 0,4 ponto do crescimento do PIB americano no primeiro trimestre, mesmo porcentual estimado para a China.
Para o estrategista-chefe da Eleven Financial, Adeodato Netto, certamente deve ocorrer um impacto negativo na atividade econômica mundial neste primeiro trimestre, por conta da série de eventos recentes provocados pelo coronavírus, como fechamentos de fronteiras e restrições a circulação de pessoas. Mesmo que estas ações sejam desfeitas em breve, o efeito negativo não deve se dissipar rapidamente. Por conta do clima de alta incerteza, ele observa que as oscilações dos ativos têm sido agudas, não só aqui como lá fora. O índice de volatilidade VIX, considerado um “medidor do medo” em Wall Street, chegou a saltar 25% na tarde de hoje.
O Banco Central fez hoje leilão de linha (venda de dólar à vista com compromisso de recompra) para rolar contratos que vencem, injetando US$ 3 bilhões. Como foi apenas rolagem, não houve injeção de recursos no mercado e profissionais de câmbio seguiram dizendo hoje que os indicadores técnicos mostram o mercado sem disfuncionalidade. Para o estrategista da Eleven, desde a gestão anterior, o BC não tem feito intervenções no câmbio para determinar um nível para o dólar, mas para evitar disfuncionalidade. Como o dólar se fortalece internacionalmente, o real é influenciado por este movimento. “Essa é a premissa do câmbio flutuante.”
Por Altamiro Silva Junior
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