O dólar voltou a cair, após subir nas últimas duas sessões e bater em R$ 4,23 ontem. Enquanto aguardam o final da reunião de política monetária dos Estados Unidos, que termina nesta quarta-feira, 29, investidores aproveitaram o dia mais calmo no exterior para realizar lucros após a valorização de ontem. O dólar caiu nesta terça-feira, 28, ante a maioria de moedas emergentes e de países exportadores de commodities. Aqui, fechou em baixa de 0,39%, a R$ 4,1932.
O diretor de estratégia de moedas da BK Asset Management, Boris Schlossberg, observa que houve melhora no apetite por risco hoje, após um dia tenso ontem, em meio às preocupações dos efeitos do coronavírus na atividade econômica chinesa e mundial. Ele observa que a doença continuou a se multiplicar, superando 4 mil infectados hoje, e mais países, como Filipinas e Alemanha, registraram casos, e há pouca dúvida de que haverá efeitos na atividade neste primeiro trimestre. Houve ainda a confirmação de caso suspeito no Brasil. Mas hoje os investidores aproveitaram para corrigir excessos da véspera.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje que está monitorando o câmbio, mas a alta recente do dólar não está contaminando as expectativas de inflação e nem afetando as variáveis de risco. Para ele, o movimento atual do câmbio destoa do ano passado, pois o Credit Default Swap (CDS), um dos termômetros mais importantes do risco Brasil, está caindo. Hoje, voltou a operar abaixo de 100 pontos, voltando para os menores patamares em dez anos.
As declarações de Campos Neto foram interpretadas como uma sinalização de que não haverá intervenção no mercado de câmbio por agora, avalia um diretor de tesouraria de um banco. A fala do presidente do BC em conjunto com as menções recentes do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que um ambiente de juros baixos implicam nível de dólar mais alto, indica que o governo está confortável com o câmbio no atual patamar, observa este executivo. Nesse sentido, enquanto Campos Neto discursava, o dólar tocou a máxima do dia R$ 4,2166.
Além dos desdobramentos do coronavírus, a reunião do Fed amanhã pode mexer no mercado internacional de moedas. A expectativa é de manutenção dos juros, mas atenções vão recair sobre a entrevista coletiva do presidente Jerome Powell, avaliam os economistas do Deutsche Bank. A rápida disseminação do vírus tem levado ao aumento da aposta que o Fed pode ter que cortar juros este ano e a expectativa é ver se Powell faz comentários ou é questionado sobre este novo fator de risco para a economia mundial.
“Powell provavelmente vai evitar fazer projeções específicas, considerando as incertezas que cercam a natureza do coronavírus neste momento. Contudo, ele deve observar que a disseminação do vírus pode levar a redução temporária do crescimento global, particularmente na Ásia emergente, como ocorreu em 2002/2003 com a epidemia do Sars”, escrevem os economistas do Deutsche Bank.
Por Altamiro Silva Junior
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