Sob a gestão do economista Gustavo Montezano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou em US$ 3,5 milhões, cerca de R$ 15 milhões, o valor da auditoria que prometia abrir a “caixa-preta” da instituição.
O reajuste de 25% aconteceu por meio de um aditivo contratual, publicado no dia 25 de outubro de 2019, e aumentou de US$ 14 milhões para US$ 17,5 milhões o contrato da Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, escritório contratado para realizar os serviços de auditoria. Conforme extrato do aditivo obtido pela reportagem, o aumento no valor do contrato foi autorizado pela atual diretoria do BNDES.
Quando convertido em reais, o custo total do contrato ultrapassa R$ 70 milhões. O banco, no entanto, sustenta que para a auditoria desembolsou R$ 48 milhões, como revelou o jornal O Estado de São Paulo na segunda-feira, 20.
O valor original do contrato com a Cleary foi fechado em 2015, quando o escritório foi contratado para serviços jurídicos. Só depois, em 2018, sob o comando de Paulo Rabello de Castro, que a banco passou a trabalhar para abrir a “caixa-preta” usando o limite já aprovado, que foi ampliado por meio de aditivos, sendo o mais recente na gestão Montezano.
Depois de um ano e dez meses de auditoria, o escritório não encontrou indícios de corrupção em pelo menos oito operações do banco com o grupo J&F entre 2005 e 2018.
Nesta quarta-feira, 22, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, Gustavo Montezano chegou a responsabilizar a gestão do ex-presidente Michel Temer pelo custo milionário do contrato com a Cleary.
O economista disse, na ocasião, que 90% da auditoria contratada para abrir a “caixa-preta” do banco estavam concluídos quando assumiu a instituição, em julho do ano passado.
Em resposta, o economista Paulo Rabello de Castro, que presidiu o BNDES entre junho de 2017 e abril de 2018, afirmou ao jornal O Estado de São Paulo/Broadcast que ficou “surpreso” com o valor de R$ 48 milhões pago pela instituição de fomento a um escritório estrangeiro. Segundo ele, a cifra desembolsada é “quatro a cinco vezes maior” que o aprovado em sua gestão.
Carta.
Rabello contou ainda que enviou uma carta a Montezano pedindo a divulgação e o esclarecimento de informações sobre o contrato, inclusive o valor inicial e a realização de eventuais aditivos (com a respectiva justificativa).
O termo de aditivo aconteceu quando faltavam menos de dois meses para o término da auditoria e a divulgação do relatório de oito páginas pelo banco. Na reunião do conselho de administração do BNDES de 22 de julho de 2019, foi autorizada a realização de um serviço complementar, “para fins de conclusão do processo de investigação independente das operações com o Grupo J&F”, por parte da Cleary.
“Tal atribuição implicará um custo de US$ 2.085.800,00 (dois milhões, oitenta e cinco mil e oitocentos dólares) para o mencionado escritório e de US$ 1.096.574,00 (um milhão, noventa e seis mil, quinhentos e setenta e quatro dólares) para a subcontratada Protiviti”, diz trecho da ata obtida pelo jornal O Estado de São Paulo.
“Eu prefiro falar sobre isso quando voltar ao Brasil e tiver todas as informações em mãos porque se trata de algo que pode acabar tendo impacto sobre funcionários, ex-presidentes e na própria imagem do Banco”, disse Montezano ao jornal O Estado de São Paulo/Broadcast nessa quinta-feira, 23, em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, ao justificar porque não falaria sobre o assunto.
A agenda oficial de Montezano demonstra que ele tinha interesse de acompanhar de perto o processo de auditoria. Uma semana após a publicação do aditivo no contrato, o presidente do banco teve uma reunião por videoconferência, em 4 de novembro de 2019, com três advogados da Cleary. No dia 22 de agosto de 2019, uma quinta-feira, a agenda oficial de Montezano também aponta reunião oficial com representantes do escritório internacional.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Patrik Camporez e Idiana Tomazelli
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