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Associações usam ‘Fiesp do B’ para falar com governo

A crise na relação entre grandes empresas paulistas e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) levou parte da elite empresarial que normalmente recorreria à entidade para a interlocução com o governo federal a buscar rotas alternativas. Algumas das associações industriais baseadas no Estado optaram por construir uma relação direta com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sem ajuda da entidade presidida por Paulo Skaf. O grupo é formado por 11 entidades e se reúne com o ministro a cada 60 dias.

Embora não tenha atividade formal, o grupo foi apelidado de Coalizão Indústria e funciona como uma espécie de “Fiesp do B”. Começou a ganhar corpo no fim de 2018, a cinco dias da eleição, a partir de uma reunião de lideranças com a equipe do então candidato Jair Bolsonaro. Esse time de empresários inclui representantes de indústrias como aço, máquinas e equipamentos, elétrica e eletrônica, têxtil, calçados e construção civil, diz Marco Polo Mello Lopes, líder não oficial da coalizão, presidente do Instituto Aço Brasil e figura próxima à família Gerdau.

Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de São Paulo, a preferência de Paulo Guedes pela relação direta com essas associações seria sua proximidade com o dia a dia da economia. É algo que o ministro não veria em entidades como a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) – à qual já fez críticas públicas – e a Fiesp. “O Skaf não tem interlocução com o Guedes”, diz um representante de uma associação que participa das reuniões, que acontecem sempre às sextas-feiras, no Rio de Janeiro. Procurado pela reportagem, o presidente da Fiesp não quis dar entrevista.

O Ministério da Economia disse que qualquer notícia de animosidade entre Guedes e Skaf é “fake news” e que a relação entre os dois é boa. Na agenda oficial de Guedes, porém, enquanto o presidente do Instituto Aço Brasil foi recebido quatro vezes em 2019, houve dois encontros com Skaf – em um deles, o ministro foi acompanhar Bolsonaro.

Críticas.
A insatisfação de parte dos industriais com a gestão de Skaf é antiga e ganhou força após os empresários Pedro Passos, Pedro Wongtschowski e Horácio Lafer Piva – membros do conselho de administração de Natura, Ultrapar e Klabin, respectivamente – publicarem artigo na Folha de S. Paulo, na terça-feira, criticando a atuação da Fiesp e de seu presidente, que vem concorrendo, até agora sem sucesso, a cargos públicos.

O jornal O Estado de São Paulo conversou com diversos industriais na quinta-feira, 23. A percepção é de que a Fiesp perdeu relevância no debate econômico à medida que as ambições políticas de Skaf ganharam força. A aproximação do presidente da entidade com Bolsonaro – fortalecida a partir de uma viagem de ambos à China, em outubro de 2019 – é vista como algo que serve mais a um projeto político pessoal do que aos interesses da indústria paulista. “O Skaf é assim. Já foi lulista, dilmista e temerista. E agora é bolsonarista”, definiu um empresário, pedindo anonimato.

À medida que Bolsonaro colhe assinaturas para formar a Aliança pelo Brasil, seu novo partido, Skaf se posiciona para ser o candidato do partido a governador de São Paulo pela legenda, em outubro de 2022, dois meses antes do fim de seu mandato da Fiesp. “Ele está buscando uma saída honrosa – e essa porta seria o cargo de governador”, diz outra fonte da indústria. “Mas é uma aposta arriscada, pois até Bolsonaro tem muito tempo para mudar de ideia.”

No entanto, mesmo as entidades mais agressivas quando falam do presidente da Fiesp admitem que a aproximação com Bolsonaro pode ser um trunfo. Skaf, aliás, tem agitado a bandeira branca usando justamente a nova fase da relação com o presidente da República. Marcou um almoço na Fiesp, com a presença de Bolsonaro, para o dia 3 de fevereiro. E, para mostrar que ainda tem força no setor, está convidando mesmo gente com quem entrou em rota de colisão dentro da Fiesp. A estratégia tende a ser bem sucedida. “Como falar não para um almoço com um presidente da República?”, questionou um industrial.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Fernando Scheller

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