A sensação térmica em Washington era de 3ºC negativos. Mas o frio não amedrontou cerca de 40 manifestantes que foram à porta do Senado e nem os impediu de bater panelas e levantar cartazes, mesmo sendo difícil tirar as mãos de dentro dos bolsos.
Dois grupos diferentes, ambos a favor do impeachment do presidente americano, Donald Trump, encontraram-se sem combinar por volta das 13 horas no gramado diante do Capitólio. Do lado de dentro, congressistas abriam a primeira sessão de julgamento de Trump no Senado.
Além das críticas recorrentes feitas pela parcela da população, um grito novo ecoava entre os manifestantes em Washington: “Não há julgamento sem depoimentos”. Os manifestantes criticam a proposta do líder republicano no Senado, Mitch McConnell, de abreviar o rito do impeachment – e absolver Trump mais rapidamente.
Os grupos não criaram transtornos para os policiais à frente do Capitólio, nem repercussão no noticiário local. Os protestos na capital passaram bem longe do alcance visto nas manifestações a favor e contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, no Brasil. O panelaço dos americanos nem chegava a ser ouvido de dentro do prédio do Senado e não foi orquestrado para acontecer simultaneamente nas janelas dos bairros da cidade.
Sunsara Taylor foi uma das organizadoras do movimento, pelo grupo antifascista “Refuse Fascism”. “Nós temos de lutar para que as pessoas saiam de casa. Os americanos acham que podem esperar até as próximas eleições, mas Trump está sofrendo um impeachment porque sabotou as eleições. Ele não respeitará o resultado”, disse Sunsara, que critica o fato de os democratas não convocarem manifestações. “Em Hong Kong, a oposição está nas ruas. No Chile (também). Só hoje os democratas chamaram o povo, mas para os telefones, não para as ruas.”
Ontem, depois de McConnell anunciar as regras do julgamento, o deputado democrata Brian Schatz pediu à população que inundasse as linhas telefônicas do Senado exigindo que novas testemunhas e provas fossem consideradas. Foi o mais próximo que a oposição chegou do chamado à revolta popular.
Desde o início do processo, houve um dia de mobilizações significativas no país. Em dezembro, milhares organizaram atos espalhados pelos EUA na véspera da aprovação do impeachment na Câmara.
No entanto, diante de um processo que deve terminar com a absolvição de Trump, a oposição encontra dificuldade para mobilizar manifestações. Em parte, segundo os organizadores, por falta de um chamado dos democratas para que a população ocupe as ruas.
Apoio popular à destituição do presidente não falta. Segundo o site Five Thirty Eight, que agrega várias pesquisas de opinião, 49,9% dos americanos apoia o impeachment, enquanto 45,9% são contra a destituição de Trump.
Em entrevista à revista The Atlantic, Dana Fisher, socióloga da Universidade de Maryland disse que “ninguém acredita que o impeachment será aprovado”.
Segundo ela, o processo contra Trump não afeta emocionalmente as pessoas como outras causas. As críticas ao presidente são constantes em manifestações de grande porte, como a Marcha das Mulheres e os protestos de jovens contra o aquecimento global. O impeachment, porém, mobiliza menos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Beatriz Bulla, corerspondente
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