Polêmicas sobre meio ambiente respingam mais sobre a decisão do investidor internacional iniciar ou ampliar negócios no Brasil do que as recentes confusões políticas. Esse foi o sentimento de executivos brasileiros e estrangeiros consultados pelo Estadão/Broadcast informalmente nos corredores do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.
Um assunto que tomou conta do noticiário internacional recentemente foi a demissão do dramaturgo Roberto Alvim, que parafraseou em discurso o ideólogo nazista Joseph Goebbels em vídeo no qual também se ouvia uma das obras favoritas de Hitler, a ópera Lohengrin, do compositor Richard Wagner. Após a exoneração, o ex-secretário da Cultura compartilhou mensagem no WhatsApp dizendo desconfiar de uma “ação satânica” por trás do vídeo e de sua demissão.
“Esse foi mais um caso em que o governo trocou os pés pelas mãos, mas, sinceramente, isso não mexe com os investimentos, apesar de afetar a imagem principalmente na Europa e, mais especificamente ainda, na Alemanha”, disse um dos executivos consultados. Outro comentou que o caso chegou a ser “obsceno”, mas ressaltou que a reação imediata das redes sociais pressionou o presidente Jair Bolsonaro a tirar Alvim do cargo.
Uma terceira fonte comentou ainda que, enquanto forem isolados, os casos são tratados no exterior apenas como alegoria. “Muita gente vê o Brasil aqui fora apenas como o país do carnaval, da música e do futebol. Esse seria mais um novo perfil a ser reconhecido no exterior: o das trapalhadas do governo. Pode até não impedir investimentos, mas claramente também não ajuda.”
Para os entrevistados, porém, o governo não pode mais brincar em relação ao clima, que ganhou atenção de todo o mundo nos últimos anos. O próprio Fórum tem dado destaque para o tema e uma das conversas nas ruas de Davos é a de que o frio este ano na pequena cidade conhecida pelos resorts de ski não está tão forte quanto em anos anteriores, quando a temperatura chegou a -23ºC. No geral, o inverno tem se mostrado menos rigoroso em toda a Europa e muitos atribuem essas temperaturas não tão baixas assim justamente às mudanças climáticas.
No início do segundo semestre do ano passado, os incêndios na Amazônia chamaram a atenção de todo o mundo. E três dos entrevistados ressaltaram a demora do governo em agir. “Se isso acontecer novamente neste ano, se houver queimadas na época mais seca e o governo demorar para agir, será um problema”, anteviu um deles.
Outro entrevistado salientou que é “uma pena” o Brasil ser apontado no exterior por causa dos incêndios na Amazônia justamente em um momento em que o setor produtivo e financeiro parece ter aderido à causa por meio de seus produtos, serviços e instrumentos. “O Brasil tinha tudo para estar nessa vanguarda, mas provavelmente perderá mais uma vez o bonde, e por bobagem”, lamentou.
Por Célia Froufe, enviada especial
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