O dólar teve novo dia de alta, com o real descolado do comportamento de outras moedas emergentes. Indicadores mais fracos que o esperado da atividade econômica brasileira, segundo traders de câmbio, são o principal motivo para a valorização do dólar este ano no Brasil, pois aumentaram as preocupações com o crescimento da economia em 2020. As vendas no varejo de novembro, divulgadas hoje, vieram piores que o previsto e, com isso, o dólar passou o dia todo em alta, com impacto praticamente nulo aqui da assinatura do acordo comercial fase 1 entre Estados Unidos e China. A moeda americana terminou com ganho de 1,30%, a R$ 4,1843, a maior cotação desde 5 de dezembro.
O real não só teve nesta quarta-feira o pior desempenho ante a divisa dos Estados Unidos em uma cesta de 34 moedas internacionais, como também é a com pior desempenho este ano no mercado internacional. O dólar já acumula alta de 4,3% em 2020 no Brasil. O peso chileno tem o segundo pior desempenho este ano, e lá a moeda americana avança 3%. Na África do Sul, a terceira da lista, o dólar sobe 2,7%.
O diretor de tesouraria de um banco destaca que em dezembro, em meio ao otimismo com a aceleração do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020, com várias casas nacionais e estrangeiras elevando projeções, investidores fizeram mudanças importantes em suas estratégias, passando a apostar na valorização da moeda brasileira. Com o aumento da tensão no Oriente Médio logo nos primeiros dias de 2020 e, em seguida, com os indicadores mais fracos da atividade, parte dessa estratégia começou a ser desfeita.
O diretor acima ressalta que os dados econômicos de novembro, tanto o da produção industrial como o de serviços e de varejo, não mudam sua visão de que o PIB do Brasil vai se acelerar este ano, crescendo entre 2% e 2,5%, até porque o número do varejo, por exemplo, costuma ser muito volátil. Mas para ele, não há dúvidas de que os números geraram ruído importante no mercado de câmbio, até porque ajudaram a aumentar a aposta de novo corte de juros em fevereiro, reduzindo ainda mais o diferencial do Brasil com o mundo desenvolvido. “Eu não esperava que o dólar fosse estar hoje onde está”, diz ele, ressaltando que esperava a moeda mais perto de R$ 4,05.
Para um ex-diretor do Banco Central, apesar da depreciação do real, não há “disfuncionalidade” no mercado de câmbio neste momento que justifique ação do BC. “Se eu estivesse no BC, não faria nada agora, até porque ia parecer que o BC está defendendo um patamar para o dólar”, disse ele.
Apesar do desempenho ruim do real este ano, o banco americano Citi manteve a aposta “overweight” no real, com posição comprada na moeda brasileira, ou seja, na expectativa de valorização. Os estrategistas do banco justificam a estratégia por causa da expectativa de aceleração do PIB este ano e ainda a perspectiva de volume importante de aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês), que deve trazer recursos externos para o País.
Por Altamiro Silva Junior
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