Às margens do Rio Negro e envolto de belezas naturais e luxo, o Hotel Tropical, em Manaus, deve ter em 11 de fevereiro o capítulo mais importante de uma história com mais de quatro décadas. Fechado desde maio por causa de dívidas que ultrapassam os R$ 20 milhões, o espaço – que já recebeu reis, príncipes, presidentes e artistas consagrados no meio da Amazônia – vai a leilão e tem destino incerto.
Inaugurado em 26 de março de 1976, na presença do então presidente Ernesto Geisel, o Hotel Tropical foi construído pelo Grupo Varig, em ação coordenada com o governo da época com o objetivo de integrar a Amazônia ao Brasil e ao mundo. Com 235 mil m², foi um dos maiores complexos turísticos hoteleiros da América do Sul, com quadras de tênis, ginásio poliesportivo, praia privativa e até um zoológico particular.
No local de hospedagens, sete longos corredores com 611 apartamentos. Tudo rodeado pela floresta, com vistas para o rio que banha o oeste de Manaus. O local atraiu hóspedes célebres como o príncipe britânico Charles, que já esteve duas vezes no hotel – uma delas com a princesa Diana -, o ex-presidente americano Bill Clinton e os ex-presidentes Michel Temer, Dilma Rousseff, Lula e Fernando Henrique Cardoso.
Além de Pelé, ficaram no hotel o cantor britânico Elton John, o escritor colombiano Gabriel García Márquez e cantoras como Gloria Gaynor e Ivete Sangalo – a baiana foi atração de um show privado no local.
A estabilidade financeira do resort, contudo, sofreu os primeiros sinais de ameaça após a falência da empresa aérea e de suas subsidiárias, em meados dos anos 2000. O processo fez com que muitos credores da antiga companhia pedissem seus direitos e penhoras trabalhistas, o que travava parcela considerável da receita. Com o bloqueio e queda na arrecadação por causa da crise econômica, veio à tona uma dívida de R$ 20 milhões do hotel com a concessionária de energia elétrica. Foram três cortes entre 2018 e maio do ano passado, com religações por liminar judicial.
O não pagamento de um valor com desconto de 60%, definido após negociação entre as partes, tirou de vez a energia do Tropical, que ainda operou um mês com gerador, mas fechou as portas logo em seguida.
“Só percebemos que a situação do hotel estava degringolando quando cortaram a luz”, lembra o ex-assessor de imprensa do hotel, Paulo Roberto, um dos últimos funcionários a abandonarem o trabalho no resort. “Tínhamos a questão econômica do Brasil, que está complicada. Mas o hotel, no mercado atual, ainda tinha uma boa carteira de eventos que sustentava e pagava parte das contas.”
O fechamento causou demissões em massa e escancarou os débitos trabalhistas do empreendimento, que pode ultrapassar R$ 20 milhões, segundo o Sindicato dos Empregados do Comércio Hoteleiro do Amazonas. Conforme o advogado e administrador da massa falida, Pedro Cardoso dos Santos, o valor está em apuração.
O resort, que chegou a empregar mais de mil pessoas, decretou falência com cerca de cem funcionários, dispensados em seguida.
Venda
Um primeiro leilão do estabelecimento foi marcado para dezembro passado, mas ninguém arrematou o Hotel Tropical. O complexo irá novamente a leilão em 11 de fevereiro, no Sindicato dos Leiloeiros do Rio. O lance inicial será de R$ 182,150 milhões. Caso não haja interessado, o valor inicial para a segunda rodada é de R$ 120 milhões.
O processo ocorrerá em condições semelhantes ao leilão de dezembro. Naquela disputa, a empresa Nyata – Soluções em pagamentos apresentou o valor da segunda sessão, mas não efetuou pagamento de caução de 5% do lance em tempo hábil. “O leilão foi negativo porque a Nyata não cumpriu o requisito do edital, então o juiz preferiu marcar outro leilão”, disse o administrador da massa falida.
O prazo para credenciamento de interessados é até 7 de fevereiro. A Nyata já sinalizou interesse em, caso vença a disputa, retomar as atividades do hotel. Procurada, a empresa não se manifestou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Bruno Tadeu, especial para o Estado
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