Donald Trump anunciou nesta segunda-feira, 15, o senador J.D. Vance, de Ohio, como candidato a vice-presidente para concorrer nas eleições de novembro. Vance, um antigo crítico de Trump que já declarou em rede nacional que “não suportava” o ex-presidente, tem uma curta carreira em política e é o primeiro millennial a se juntar a uma chapa presidencial de um grande partido dos Estados Unidos.
Vance, de 39 anos, ganhou fama nacional com a publicação de seu livro de memórias, Hillbilly Elegy, em 2016. “Eu não suporto Trump”, disse Vance à emissora NPR em agosto daquele ano.” Nunca gostei dele”, disse Vance a Charlie Rose em outubro do mesmo ano, semanas antes de Trump ser eleito presidente. Naquele mesmo ano, ele supostamente disse a um ex-colega de quarto que Trump era um “idiota cínico” ou o “Hitler da América”.
No entanto, em 2022, Vance foi eleito para o Senado e mudou de opinião, tornando-se um dos mais ferrenhos defensores da agenda “Make America Great Again”, de Trump, particularmente nas áreas de comércio, política externa e imigração. Em uma espécie de ‘mea culpa’, ele disse que estava errado por criticar Trump, a quem defendeu como um grande presidente.
Durante seu mandato, o republicano de Ohio criticou veementemente a ajuda dos EUA à Ucrânia e se tornou um dos principais defensores do ex-presidente e de sua agenda no capitólio. No fim de semana, quando Trump foi alvo de uma tentativa de assassinato em um comício na Pensilvânia, Vance atacou o presidente Joe Biden em um tuíte, responsabilizando-o sobre a violência.
Após romper com seu vice-presidente anterior, Mike Pence, por sua recusa em anular os resultados das eleições de 2020, Trump preferiu um nome jovem e com uma fidelidade canina à sua figura. Vance também pode também ajudar Trump a ter votos em Estados industriais do chamado ‘rusty belt’ (cinturão da ferrugem, em tradução livre), que devem ser cruciais no colégio eleitoral, como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin.
Porta-voz dos trabalhadores brancos
Vance serviu no Iraque como fuzileiro naval dos EUA de 2003 a 2007 antes de estudar ciência política e filosofia na Universidade Estadual de Ohio e frequentar a Faculdade de Direito de Yale. Ele trabalhou em um grande escritório de advocacia corporativa e depois como principal executivo na empresa de investimentos do bilionário Peter Thiel em São Francisco.
Em seu livro publicado em 2016, o político relatou sua infância em uma comunidade de siderúrgicas em Ohio, em uma família assolada pelo vício em drogas e pobreza. Na obra, ele detalhou a vida nas comunidades dos Apalaches que se afastaram de um Partido Democrata que muitos na região achavam desconectado de suas dificuldades diárias.
Muitos exaltaram Vance como um porta-voz emergente das lutas dos trabalhadores brancos, e seu livro foi adaptado em um filme da Netflix de 2020 dirigido por Ron Howard. Embora o livro tenha sido um best-seller, ele também foi criticado por às vezes simplificar demais a vida rural e ignorar o papel do racismo na política moderna.
Em 2019, após o sucesso de seu livro, ele voltou para Ohio e fundou uma empresa de capital de risco. Vance ajudou a organizar arrecadações de fundos para Trump, incluindo uma em junho, organizada pelo empresário do Vale do Silício, David Sacks.
Sua evolução em relação a Trump talvez não fosse totalmente imprevisível. Mesmo em suas entrevistas, postagens nas redes sociais e escritos de 2016 que criticavam Trump, Vance frequentemente seguia suas declarações dizendo que entendia por que os eleitores trabalhadores brancos apoiariam Trump.
Em 2016, em uma entrevista, Vance disse que sentia que as “elites” direcionavam uma atitude de “nós avisamos” para os apoiadores de Trump da classe trabalhadora branca.
“O problema é que, se você adotar essa atitude de tipo esnobe… então você está jogando com a mesma coisa que deu origem a Trump em primeiro lugar, que é a sensação de que as elites pensam que são mais inteligentes que você e acham que você pertence a um bando de idiotas”, disse Vance naquela época.
Em uma edição de 2018 de Hillbilly Elegy, Vance revelou que votou em um candidato de um terceiro partido em 2016. Mas, embora ainda tivesse “reservas” sobre Trump dois anos depois de seu mandato, Vance também escreveu que havia aspectos de sua candidatura que lhe agradavam, incluindo o “desprezo pelas ‘elites’ e críticas aos erros de política externa no Iraque e no Afeganistão” de administrações anteriores.
Apoio à narrativa de fraude nas eleições
Vance também ecoou anteriormente as falsas alegações de Trump sobre fraude generalizada nas eleições de 2020 e indicou que teria seguido um caminho diferente em 6 de janeiro de 2021, do que Mike Pence. Vance disse à ABC News em fevereiro que, se ele fosse vice-presidente, teria permitido que o Congresso considerasse listas fraudulentas de eleitores pró-Trump.
Vance não se comprometeu inequivocamente a aceitar os resultados das eleições de 2024, dizendo ao “Meet the Press” da NBC no início deste mês que o faria “desde que seja uma eleição livre e justa.” Na mesma entrevista, ele prometeu trabalhar com Trump, mesmo que não fosse escolhido como seu companheiro de chapa. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
Por Redação, O Estado de S. Paulo
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