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Dólar sobe 1,56% e fecha a R$ 5,6627, com exterior e fiscal no radar

O dólar à vista iniciou 2022 em alta firme, voltando a superar a linha de R$ 5,65, em dia marcado por fortalecimento global da moeda americana, na expectativa por alta de juros nos EUA, e cautela diante do ambiente fiscal e político interno.

À espera da ata do Federal Reserve, na quarta-feira, 5, e do relatório de emprego nos EUA (payroll), na sexta-feira, 7, o dólar ganhou força entre seus pares, apesar de dados negativos do setor industrial divulgados hoje. O avanço da variante Ômicron do coronavírus já não assusta tanto, uma vez que a letalidade da nova cepa tem se mostrado reduzida.

O índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – operou em alta firme e, na máxima, chegou a superar os 96,300 pontos. A moeda brasileira, uma vez mais, amargou de longe o pior desempenho entre as divisas emergentes. Pares do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano, até ganharam força ante o dólar.

Por aqui, pegaram mal nas mesas de operação declarações do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de que, diante das enchentes na Bahia e da alta da arrecadação seria necessário repensar o teto de gastos – um prenúncio de mais pressão por verbas em ano eleitoral. Faltam também definições sobre o reajuste do funcionalismo público.

No campo eleitoral, operadores comentaram a possibilidade de o ex-ministro Sergio Moro abandonar a corrida presidencial para se lançar candidato ao Senado, o que esvaziaria a chance de uma terceira via sair vencedora no pleito. A internação do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo por conta de problemas intestinais foi monitorada, mas não chegou a ter peso na formação da taxa de câmbio.

Do lado técnico, analistas destacam que a baixa de 2,06% do dólar na quinta-feira (30), último pregão de 2021, foi muito influenciada pela disputa da formação da Ptax do ano – parâmetro para ajustes de balanços e liquidação de contratos futuros. Boa parte da alta da moeda americana hoje seria fruto de uma correção técnica, com recomposição de posições defensivas.

Com oscilação de cerca de 11 centavos entre a mínima a R$ 5,5607 – em queda pontual pela manhã – e máxima a R$ 5,6727 (registrada no início da tarde), o dólar à vista encerrou a sessão cotado a R$ 5,6627, em alta de 1,56%. O dólar futuro para fevereiro subiu 2%, a R$ 5,72350, com giro de US$ 12,1 bilhões

O head de câmbio da HCI Invest, Anilson Moretti, diz que a queda de mais de 2% do dólar no último pregão de 2021 está muito ligada a operações de tesourarias na disputa pela formação da taxa Ptax, que acabou fechando o ano R$ 5,5805. “Foi mais uma manobra para ajustes de balanços corporativos. Hoje, já vemos a volta das compras de dólares”, afirma Moretti, acrescentando que o nível da taxa de juros embutido na curva a termo deveria atrair recursos e, por tabela, derrubar o dólar. “Isso não está acontecendo porque estamos carregando ainda um risco fiscal e político elevado. É ano de eleição”.

Sócio da Valor Investimentos, Davi Lelis afirma que o cenário político é “muito conturbado” e que os indicadores econômicos são frágeis, o que explica a taxa de câmbio mais depreciada. “A percepção de risco maior faz com que haja uma fuga para o dólar”, diz.

Depois de sucessivas intervenções em dezembro, com leilões de venda à vista, hoje o Banco Central se limitou a promover a rolagem de swaps cambiais dos vencimentos programados para março. Foram vendidos, contudo, apenas 6.400 contratos (US$ 320 milhões), bem abaixo da oferta total, de 17 mil contratos.

O economista-chefe do JF Trust, Eduardo Velho, estima um suporte para o dólar superior a R$ 5,57 e taxa de câmbio média de R$ 5,64 ao longo do primeiro trimestre. Velho ressalta que o dólar já trabalha muito pautado pela expectativa em torno da elevação da taxa de juros nos Estados Unidos, daí a relevância da interpretação que o mercado dará a ata do Fed nesta semana.

“Nosso cenário é de duas altas de 0,25 ponto, com o Fed tentando evitar uma terceira alta em 2022”, diz Velho, ressaltando que os fundamentos domésticos ainda são frágeis e que o aumento da taxa de juro real doméstica, embora importante para estabilizar as expectativas de inflação, não será “o driver para atrair volume de investimentos externos”.

Entre os indicadores do dia, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao ministério da Economia, informou que a balança comercial fechou 2021 com superávit de US$ 61,088 bilhões – resultado anual recorde e 21% superior ao de 2020. A Secex projeta um saldo comercial positivo de US$ 79,4 bilhões em 2022.

Por Antonio Perez

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Estadão Conteúdo

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